Anotei uma receita de torta de frango com requeijão cremoso e parmesão gratinado; provavelmente não irei fazer.
Estendi um tapete no chão e por quase uma hora tentei pilates.
Meditação, leitura on line, física quântica; um grupo me propõe vinte e oito dias de exercícios diários: algo envolvendo lei da atração, abundância; permaneci no grupo durante quinze minutos, sai.
Limpei a poeira do velho violão, comprei cordas novas, assisti por quarenta minutos a primeira aula on line, continuo com duas mãos esquerdas, sem saber tocar, sem ritmo e som.
Conheci novos artistas, gente talentosa, guerreira, arte in natura, visceral, arte liberal, despretensiosa, propondo a todos: não “se leve” tão a sério, tudo passa, tudo muda, divirta-se, afinal de contas a arte imita a vida ou vice e versa, e o que ambas querem nos trazer é alivio, beleza e esperança.
Fiz um tour virtual por uma vinícola, passei os olhos sobre um tutorial de vinhos, acabei descobrindo que existe sommelier de chás.
Tentei compor a letra de uma música agorinha a tarde.
Organizei as roupas por cor, tarefa tola, criei uma paleta de tons brancos, acho que preciso comprar roupas mais coloridas e diversas.
Tomei uma taça, três, oito, duas garrafas de vinho.
Acompanhei um filme por um novo ângulo: silenciei o áudio, desabilitei a legenda e por uma hora e quarenta e três minutos criei diálogos imaginários, um romance com direito a final feliz, não aqueles triunfantes, exagerados e distantes da realidade, mas honestamente feliz; a última cena era tão bonita, tão bem feita que me travou os pensamentos, não consegui mais criar diálogos imaginários, terminaram felizes e silenciosos; e não, não assistirei o filme da maneira tradicional.
Perdi o sono. Adormeci. Dormi demais. Dormi pouco. Acordei cedo, levantei tarde, sonhei com o mar, sonhei com o mar, sonhei com o mar…
Orei por cada enfermeiro, medico, por cada ser humano nesse plano terrestre. Chorei pela aflição de cada um; passará!
Queria falar de saudade diante de tantas e tantas dicas para afugentar o tedio, e técnicas para aliviar a ansiedade, estresse, tristeza; queria falar de saudade, queria falar de um antidoto eficaz contra a falta, a ausência de contato ocular, auditivo, ausência de cheiro, gosto, toque.
Queria falar de saudade, mas no momento ela também não tem cura, e por prevenção também está em casa nos acalentando a espera do momento de reviver sorrisos, e abraçar sussurrando com doçura que passou, que está tudo bem.
D.S.L
Quadro O beijo de Gustav Klimt