Monstrinho

Monstrinho completou dezoito anos.

Gestação não planejada, despreparada consumiu todas as minhas forças, alimentou-se de meu fígado, de meus olhos, de meu sangue, de todos os meus órgãos e sentidos. Monstrinho nasceu exageradamente forte, grande, intenso, tão maior, tão imenso, não condizia com meus poucos anos, um tamanho desproporcional que chocou o mundo, muitos acreditaram em minha morte: enfraqueci, empalideci, não comia, não dormia, não sorria, completamente sem forças, inerte enquanto Monstrinho se agigantava dentro de mim sem noção de tamanho.

Ainda que forte, pensei que não vingaria, eram enormes os obstáculos ao qual enfrentaria antes mesmo de engatinhar, mas Monstrinho vingou e cresceu: pernas tortas, respiração cansada, dificuldades para se movimentar, tonto, não falava, não sorria, pouca visão, babava, esperneava, gritava, Monstrinho rastejava, era trabalhoso cuida-lo, sempre sujo, indomável, desorientado, apanhou muito, ninguém o respeitava, não tinham por ele compaixão, era bobo, inocente e a crueldade a sua volta tremenda.

Monstrinho era desobediente, ainda assim quando retornava para casa era cuidado, banhava-o com muita paciência e carinho, o alimentava com música, poesia, novas visões, ensinei Monstrinho a ler e escrever, a desenhar, pois ainda que soubesse falar não o fazia, não conheci sua voz até os onze anos, quando a porta de casa encarou meus olhos, ergueu a cabeça e para meu espanto disse que estava indo embora, foi assombroso ver Monstrinho partir; Esperei tanto tempo para ouvir sua voz vociferar um adeus.

Não o esqueci completamente, mas precisei seguir adiante, minha criação era livre, Monstrinho precisava partir para experimentar, sonhar, crescer, sua lembrança vestia-se de várias formas: saudade, preocupação, cuidado, oração, tristeza, alegria, lagrimas, fiquei anos sem estar com Monstrinho, sem vê-lo, toca-lo, mas mantinha em mim as poucas vezes que ele recebeu meu amor, as poucas chances que tive de o abraçar e beijar, guardei em um azul infinito todos os momentos a seu lado.

Diante de todo o tempo decorrido rebatizei-o dando-lhe um sobrenome: Monstrinho Nunca Mais.

Nenhum telefonema, recado, carta, ninguém sabia dele, parecia existir somente em meus pensamentos e orações, as vezes julguei ter enlouquecido e inventado sua existência. Algumas vezes sentia-o morto dentro de mim, pressentia seu sofrimento longe de meus cuidados, várias manhãs chorei suas lagrimas mesmo sem saber e entender, é loucura mas sentia Monstrinho, gravei o som de seu adeus, mas ouvia seus gritos, chamava por mim, porém não sabia como voltar, estava perdido.

Monstrinho voltou após dezesseis anos com a promessa de que viveríamos juntos, felizes, fortes.

Carinhoso, lindo, surpreendente, encantador, larguei tudo para ficar com ele, enfim a chance de ser feliz a seu lado. Ó Deus! Um sonho realizado, um conto de fadas, que história fantástica essa nossa Monstrinho! Entreguei-me de olhos fechados, senti seu amor, seus olhos me enxergavam, queriam a mim, desejava estar comigo para sermos enfim nós; mas Monstrinho estava doente, muito doente, fraco, cuidei-o com todas as minhas forças e amor, mas não foi suficiente; parou de andar, falar, comer, revoltou-se muitas vezes, indócil, triste, doente, muito doente, febril, agressivo, sangrei novamente, Monstrinho consumiu todas as minhas forças, mas dessa vez tive muito medo e então me afastei, precisei tranca-lo com meu medo em lugar muito escuro e frio e isso também quase me fez morrer novamente, ainda que ele não entenda ou jamais acredite. Monstrinho precisava curar-se, mas ninguém poderia sangrar por ele, ou junto a ele.

Um dia volto a falar sobre essa história, por enquanto não sei o que irá acontecer, tão pouco consigo imaginar, o que sei é que Monstrinho merece ser feliz, muito feliz, sobre muita luz, proteção e verdade. Monstrinho é bom, lindo, apaixonante, romântico, parte de mim, cheio de fé e otimismo e esperança, e festa e música e dança e vida e sonhos, por isso quando completamente curado saberá exatamente que direção seguir…

D.S.L

MONSTRINHO

*foto: desenho feito por Monstrinho aos 7 anos

 

 

 

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Autor: ela...

Elaine. Ela. Helena. 17. Setembro. Há alguns anos atrás. Ascendente em peixes. Brasil. Santista de nascimento. Baiana de descendência. Mineira de coração e endereço. Muitas e de muitos tamanhos. Letras, palavras, frases. Nossa Senhora Aparecida. Família. Música. Sol. Brisa. Luar. Prefiro mar. Branco. Tenho uma irmã mais nova. Minha maior paixão tem mais de 100 anos. Abraço. Meu pensamento é hiperativo. Tenho os melhores amigos. Cometo ao menos um erro todos os dias. Converso com Deus. Já mudei de emprego três vezes, já mudei de vida outras varias. Por do sol. Não faço nada sem dois ingredientes: paixão e entusiasmo. Primavera. Beijo. Horizonte. Esperança. Cinema, quadros, composições. Já machuquei quem não merecia. Olhar. Exagerada e sensível. Carente. Bagunceira. Transparente. Meu primeiro livro publicado e grande orgulho: Quando Florescem as Orquídeas. Tenho um blog e uma coluna semanal em um jornal do interior. No mais sou abençoada. Sei dizer apenas que tudo passa!E que eu sou bem feliz! D.S.L

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