Queria ter dito alguma coisa para a moça que passou por mim nessa manhã chorando. Quando não se consegue segurar o choro em um ambiente completamente estranho e inseguro como uma rua é porque algo de muito sério está acontecendo; ninguém chora na rua em uma quinta feira as sete meia de uma manhã fria de inverno à toa, desejei sem conhece-la que ainda naquele dia ela tivesse um motivo para sorrir, ciente de que tudo passa; que ao chegar em casa respirasse fundo, ou que chorasse ainda mais para se esvaziar, que encontrasse refúgio no abraço de alguém que ama, que desencanasse daquele sofrimento, ou gritasse por ajuda, desejei que fosse feliz, e que trocasse os soluços de dor, por um suspiro de esperança.
Seja um bom pressagio!
Algo bom acontece quando desejamos, é como se cada um de nós carregasse uma vela, ao desejarmos o bem a alguém essa chama se acende automaticamente, iluminando o outro e nos enchendo de luz, uma troca invisível que eleva o universo; uma força grandiosa capaz de propagar sentimentos nobres.
Você não faz ideia do quanto de amor lhe desejo todas as vezes que nos encontramos e constato nos teus olhos tristes e frustrados o colo que lhe falta, a vontade de um abraço, o enorme desejo de pertencer a alguém; clamo com muita força que o tempo seja generoso e se encarregue de surpreender você, que lhe afague o rosto, e que com ternura adorne sua alma com amor.
Queria te dizer que essa fase apática e cinza está prestes a terminar, os dias de sol irão retornar em breve, as boas sementes que plantamos estão prontas para germinar, a vida está apenas esperando o apito inicial para voltar a ser doce e nos encantar com infinitas novas possibilidades, aventuras, e momentos que de tão especiais nos arrancarão do chão. Tudo voltara a ficar bem, e nós teremos novamente aquela sensação de saciedade, afinal temos muita sorte e gratidão.
Queria desenhar um sorriso no seu rosto, te dar um mundo menos penoso, mais igual, com menos julgamento e mais felicidade, instaurar decretos ousados: crianças não ficariam doentes, nem seriam abandonadas, sem fome, sem frio, com sobra transbordante de afeto e cuidado; a cada uma tristeza vivida para o crescimento e aprendizado, oito alegrias para nos lembrar o quanto a vida é bonita, é agora, e passageira; os sábados teriam as noites estendidas, e os domingos manhãs mais longas sempre com sol e café da manhã sem pressa, todo mundo teria uma casa, um bom amigo ou vários, e uma esperança novinha em folha renovando o desejo de ser feliz e se encantar; ninguém morreria de frio, ou falta de amor; desconheceríamos os sentidos de palavras como traição, desigualdade, injustiça, violência, caminharíamos em paz, sem perigos, sem armas, guerras, ou bombas; todas as cidades por menores que fossem teriam mar, montanha, e campos de plantações de girassóis bailando ao vento como se ouvissem uma melodia tocada do céu; nas ruas mais arvores, mais pássaros, menos fumaça e mais estrelas, antes dos afazeres diários ouviríamos poesia e música. Ao termino de cada dia um silencio ensurdeceria a todos, nos fazendo refletir e esquecer para que assim o amor nosso de cada noite não fosse aborrecido, encontrando o coração calmo, pleno e completamente pronto para se perder no tempo e admirar a lua enquanto adormecêssemos em um abraço.
Queria colorir a vida de esperança como luzes acesas em noite de festa.
D.S.L