Tenho ouvido tantas coisas a seu respeito, sua reputação está em baixa, tanto é que estão contestando veementemente a sua existência, desconfiando do seu poder, desmistificando toda e qualquer poesia que o retrate.
A verdade é que a sua ausência tem ocasionado consequências gravíssimas: consultórios psicológicos lotados, muito dinheiro, vaidade, beleza e uma tristeza violenta sorrindo para fotos, beijos sem encanto, jantares silenciosos, café da manha sem riso, abraço aconchegante para adormecer com o travesseiro, dias iguais motivados por em vazio depressivo, frio e cinza. A culpa não é sua, mas sim dos seus impostores os quais a todo custo tentam confundir de maneira leviana e triste aqueles que o aguardam, por conhece-lo bem, tentarei defende-lo nessas linhas rabiscadas relatando as vezes que nos encontramos, mas confesso que não será fácil, pois as desconfianças são fortes, fundamentadas por uma legião a qual afirmam que você não vale a pena, que seu prato predileto é a ilusão, a posse, a ansiedade, e que sua companhia favorita é a solidão.
A última vez que nos vimos, você estava triste, perdido, acreditando em um novo tempo o qual na verdade já fazia parte do passado, conversamos alguns dias, caminhamos de mãos dadas, ouvimos música, acalentamos a lua com olhares saudosos, mas ausentes do brilho primário necessário para o desejo de continuar, nos deixamos esquecer das horas ruins que nos separaram, mas então sem encontrar esperança e assombrado por um passado de dor foi preciso te deixar partir.
Uma vez te encontrei de madrugada, encantado, carinhoso, um toque suave em meu rosto fazendo o possível para não me despertar; Era você: tímido, temeroso, preocupado com o amanha, mas completamente consciente daquele momento raro de paz e harmonia, para afugentar qualquer duvida ainda de olhos fechados o abracei, em oração pedi que você fosse forte, confessei minha entrega baixinho ao seu ouvido, e então voltamos a adormecer, e aquele momento foi o melhor sonho do resto de nossa noite.
Outro dia você me surpreendeu: fim de tarde, engarrafamento, o pensamento cansado, a pressa cotidiana e coletiva da volta para casa, olho para o lado e lá esta você: sem celular, sem pressa, cantando, trocando olhares, feliz, iluminado, completamente alheio ao mundo la fora, em seu melhor estado: apaixonado, sorri sem que você pudesse notar, foi contagiante e arrebatador: liguei o som, o transito começou a fluir, a vida ficou leve, afinal você é bonito e essencial para nos livrar do caos.
Naquele domingo de inverno apos o café, sentei na varanda, um livro sobre o colo, o sol tímido, o tempo sem pressa, mais um pouco de café, cerrei os olhos, ensurdeci todos os pensamentos e comecei a ouvir o vento, as folhas, os pássaros, senti saudades, os olhos brilharam tímidos parecendo querer chorar, talvez durante a tarde saia para caminhar com o cachorro, talvez escreva um pouco, ou pinte um novo quadro, um filme, uma boa conversa com um amigo, senti mais saudades… Era você!
D.S.L