Desejo tempo, aquele que não se interessa pelos ponteiros sorrateiros e sem caráter do relógio, desejo tempo sem fim, sem hora marcada, sem compromissos inadiáveis e chatos que retiram de nós a esperança real de uma liberdade por enquanto apenas imaginada.
Horas infindáveis que não se curvarão a um despertador enlouquecido a roubar sonhos que ainda não terminaram.
Desejo tempo pela manhã para olhar teus olhos, para admirar teu sorriso sem pressa na companhia de uma xícara de café, tempo para ouvir os primeiros ruídos de um novo dia segurando tua mão como uma criança que enlaça a linha de seu balão pelo medo inocente de perde-lo; Desde agora que nossa única perda seja o voo dos olhos em busca de uma estrela cadente que deseje o mesmo pedido, ou diante de raios de sol primários que nos cegue perante a morada de Deus.
Tive pressa até aqui; antes de encontrar, agora meu único desejo é que o tempo se esqueça.
Quero tempo para segurar teus olhos sobre os meus e deixar-me invadir pelo teu querer de tempo a meu lado; e que ele se encarregue de passar, apostando que nós não passaremos e fiquemos assim: a nos olhar, a sentir o sabor do café forte e doce em uma partilha de paladar no primeiro beijo do dia, quero ser desperta pelo teu cheiro de sonho adormecido, e ainda de olhos fechados sentir você e sorrir em paz, sem a cruel ansiedade de te imaginar. Chega de inventar você!
Quero tempo para velejar contigo sem pressa nesse mar de vida que nos espera.
Tempo para receber os amigos, para balanço de rede, mãos na terra, plantemos orquídeas, morangos, amoras, manjericão para a macarronada as três da tarde de um domingo de música e vinho em nossa casinha branca: simples, pequena e cheia dessa harmonia que construiremos para nós, criemos uma realidade menos cruel, mais próxima da poesia, uma verdade nossa que afaste qualquer maldade ou vaidade, sejamos nós e que todas as lutas propostas pela vida as quais não podemos fugir, sejam partilhadas e amenizadas diante da força inabalável da união de nossas mãos.
Tempo para te escrever, desenhar, pintar, esculpir você, tempo para ouvir o som de tua voz de maneira tão extasiada a me fazer perder a noção de tuas palavras, retendo apenas a melodia de tua voz; horas a dançar contigo, a cantar desajeitada no teu ouvido, tempo para descansar da vida no teu colo, para sermos nós, tempo para não parar de te olhar e segurar tua mão no outono diante de um tapete de flores.
D.S.L