Talvez a vida seja um imenso e interminável livro de grandes perguntas…
Quanto tempo? Como? Onde? Para que? Por que? Para quem?
Agora pouco estava admirando a cidade, deixei o olhar vagar por entre as luzes acesas de casas, e caixinhas que se amontam na vertical, quem esta ao seu lado nesse bloco? quem esta acima ou abaixo de você? Na maioria das vezes todos estão sozinhos rodeados por completos desconhecidos, creio ser uma injustiça não conhecer de fato quem esta tão perto, cada um em sua caixinha com suas pequenas estranhezas e solidões; seja como for, ainda que defendida como empoderamento, opção, a solidão não é tão bonita como se esta pregando ultimamente, ainda que as vezes, só as vezes ela seja muita necessária, a mim não há tanta beleza em um porta retrato vazio.
Uma ou outra janela me chama atenção, a parede pintada de uma cor mais forte se faz ver melhor, aguçando a curiosidade, alguém caminha dentro de uma sala vazia em silencio; em outra janela a luz da televisão ligada, e o som alto parece pedir para que o tédio vá embora, e alguém alienado no sofá espera por nada… Barulho de chaves a porta, mais uma luz se acende, assim como uma nova estrela no céu, é com se um dia inteiro chegasse em casa, um cachorro a espera, uma troca de sorrisos, eles brincam, é como se o dia que talvez possa ter sido ruim lhe oferecesse flores para se desculpar. Conte-me quantas vezes o sorriso de um cão foi o melhor acontecimento do seu dia…
A vida é uma grande pergunta sem certezas, sem traço certo, é essa porção tão mágica de luzes acesas nessa noite de março de lua cheia onde meus olhos se enchem de esperança, pois em algumas dessas luzes um pai acaba de chegar do trabalho e abraça seus filhos, noutra um rapaz ainda sozinho prepara um jantar especial (há velas sobre a mesa, dois pratos, taças e um aroma de romance no ar), uma senhora recebe as amigas para uma noite de musica e carteado elas estão a gargalhadas, crianças brincam em uma rua um pouco mais distante não as vejo mas consigo ouvir a contagem do pique esconde, a minha direita um cheiro de carne de panela me faz querer sair pela rua e encontrar quem a esta preparando, um casal se abraça no sofá, ela beija quem esta a seu lado e se aconchega em seu ombro, uma jovem apaga a luz do quarto e cobre o filho sobre a lua que invade a janela fazendo sombra… A mim coube a riqueza de preencher essa noite enluarada com tantas historias, de tantas janelas, destas vastas e imensas luzes acesas que vibram vida e esperanças, e que jamais se apagam, pois os sonhos que adormecerem se acenderão com a luz de um novo dia.
D.S.L