A rede no centro do palco é iluminada com muita doçura, uma luz que parece guardar um segredo; Vermelha, brasileira, bordada, ela repousa num balanço muito sutil, o teatro em silencio absoluto aguarda. Os mais sensíveis ouvidos captam a respiração junto ao balanço da rede, ela repousa tranquila, enquanto todos anseiam pela sua entrada – consigo imagina-la cerrando os olhos, respirando profundamente, tomando para si a atmosfera que lhe aguarda – uma das mãos surge pelo tecido, ela o aperta impulsionando o corpo que começa a se erguer, então o sapato vermelho toca o chão, o piso, o palco, ela se ergue munida de sua guitarra rente ao corpo. A rede solitária baila no ar, enquanto ela caminha para frente do palco; a luz antes doce, agora lhe evidencia poeticamente nua diante de todos.
No ar os primeiros acordes ecoam todos os espaços daquele encontro, e nos convida para viajar além mar, além dela, além de nós e de seus grandes olhos oceânicos.
O convite é aceito, e a rede que balançava solitária agora é ocupada pelo imaginário dos presentes, cada um se balança de alguma maneira, enquanto os olhos e ouvidos atentam para um deleite de beleza antropofágica, e de melodia, poesia, luz, e ela.
Ela tão plural, tão muitas, e tão ela, tão de todos, e tão ela, cada um parece lhe trazer um pedido diferente com os olhos e o pensamento, todos a querem mais de perto, e ela retribui tocando-nos com cada palavra: nítida, doce, forte, ela nos explode de encanto, nos engloba em beleza, vida e historia, ela se divide em muitas, mas permanece tão ela, mesmo sendo tão nossa.
O batom vermelho, a cara pálida, índia ao avesso, brasileira, mesclada de todas cores e etnias, ela carrega a diversidade de tudo o que seus olhos já observaram pelo mundo, aprendiz andante, ela dança, se balança única, batuca, risca o prato, e então é coroada pela sua sede de gente, de palavras, de sons, cores.
Ela hipnotiza; nos da passagem para o sonho de amor romântico, nos traz saudade, todos cantam, ela silencia, cada canto de cada lugar é diferente, ela sente, cerra os olhos, respira, enfim A Mulher do Pau Brasil esta plena, ciente de que o seu trabalho da orgia, da folia, da poesia, do ócio, esse trabalho de tocar a vida das pessoas esta cumprido.
A sua arte permanece em nós como a cor vermelha do batom de sua boca; A Mulher do Pau Brasil germina.
D.S.L
*Foto: Léo Aversa/ Divulgação