Uma grande ressaca para milhões de brasileiros, brasileiras e afins, foi esse o estado que nos invadiu após as eleições desse ano de dois mil e dezoito, tanto aos que apoiaram a direita, quanto aos que apoiaram a esquerda.
Dias após o fatídico vinte oito de outubro acompanhei um bate papo em um teatro com Nelson Motta e Zuenir Ventura; “Zu” como é carinhosamente chamado, falou um pouco sobre seu romance, 1968 O ano que terminou, e comparou o ano de 68 com um personagem que teima em não ter fim, o qual sempre esta entre nós de alguma maneira, o romance é incrível, uma leitura imprescindível.
Foi preciso estômago forte para não vomitar durante todo esse período eleitoral.
Haviam dois extremos, de um lado flores, do outro armas, de um lado musica, do outro marcha militar, de um lado a cor preponderantemente violeta, do outro o cinza fardado; haviam dois extremos, muitas mentiras, muito dinheiro, corrupção, escândalos, falta de escrúpulos, promessas que causam medo, tontura, apatia. Haviam dois extremos, e no meio deles uma nação, desacreditada, cansada, revoltada com todos os fantasmas que a anos assombram e negligenciam uma gente que ainda assim crê em um amanha melhor. Particularmente preciso acreditar que o voto dos milhões que elegeram o novo presidente provem tão somente de um desejo de mudança,.
Velhos monstros os quais acreditávamos estar trancafiados saíram de seus porões berrando e salivando, loucos para devorar quem quer que fosse na primeira oportunidade, monstros míticos, como aquele que se corta a cabeça e imediatamente uma outra nasce. Fomos bombardeados sem argumentação plausível, muitas vezes com ofensas dilacerantes enquanto segurávamos flores, tentando manter no coração uma esperança ainda que remota de virarmos o jogo e vencer. E vencemos!
Vencemos de maneira tão relevante, tão bonita, digna e histórica. Vencemos as ameaças cantando, escrevendo, fazendo musica, poesia, discursando, sentando para uma conversa acompanhada de café e bolo no meio de uma praça, de uma rua; vencemos ainda que decepcionados com tantas pessoas próximas as quais desprezam a sensibilidade e o entendimento de que um pais muda verdadeiramente quando olha para a sua gente, quando cresce economicamente e socialmente, pois caso contrario seremos um pais de investimentos milionários, conceituado como uma moeda forte, reconhecido internacionalmente, mas que abrigara uma triste nação, amordaça, perseguida, desacredita e injusta como ser humano, se não olharmos para a dor do outro não seremos nada mais do que um punhado de ouro oco, frio e sem brilho.
Não adianta ter valor sem luz, e o brilho vem da educação, da compreensão, da reciprocidade, do amor a todo tipo de ser vivente, a luz provem da liberdade, da igualdade, do desejo insaciável de ser melhor como gente, como próximo, essa luz trás consigo a esperança, a oportunidade que precisa ser comum a todos, os direitos que precisam respeitar a todos, as leis que precisam ser para todos, e caso você faça parte da dita “maioria”, cuidado: o poder, o topo, a vaidade, e a soberba costumam estar acompanhas pela solidão, com a mira apontada para seus próprios tetos de vidro.
Nos vencemos quando nos abraçamos desconhecidos e solidários nas ruas, vencemos ao cantar: ele não, ao gritar: ele jamais, ao explodir: ele nunca! Vencemos ao unir as cores, os sexos, os jeitos, o coração em brasa pelas ruas tantas desse imenso pais, vencemos com dialogo, argumento, historia, educação, vencemos ao olhar no olho, ao acolher a diversidade ao invés de tentar mata-la, vencemos ao semear esse instinto humano de proteção a todos.
Vencemos quando enfim prometemos naquele inicio de noite nos darmos as mãos e continuar.
D.S.L
imagem da tatuadora Thereza Nardelli