O primeiro ato – A oração

Desde o útero fui agraciada pela fé, pelas mãos já envelhecidas que acariciavam o ventre daquela que me gerou, que me portou por ordem de olhos que não dormem, protegida em oração: fui entregue e consagrada.

Eis me aqui pareço de vidro mas não quebro, eis-me aqui pareço calar mas tenho todas as palavras e testemunhos, eis-me aqui com a verdade a assombrar, eis-me aqui diante do deposito de uma justiça que jamais tarda, que nunca falhara, pois sei em Quem creio.

Sou a brisa do amor, o frescor do sonho, desde sempre carrego em mim a oração, e é com ela que me defendo, me oriento, entendo e guerreio.

Faça silencio, pois vou orar por você. Sim! Irei orar por você, e que não lhe pareça deboche, ou sentimento pobre, que não lhe pareça perda de tempo, escárnio, ou brincadeira, RESPEITE, vou orar por você! Mas antes é preciso que algo simples seja entendido: essa minha atitude é o que nos difere, não sou feita da matéria podre que teu coração dissemina, não sou feita para honrar o ouro que tanto lhe cegou a ponto de perder algo que jamais retornara: o tempo.

Que Deus tenha misericórdia daquele que julga o sonho, do que cativa a esperança para destruí-la, do que se apossa de algo que não entende, valoriza ou cultiva. Foi clamando com os olhos vermelhos de dor que ouvi cada palavra proferida. Fui abençoada quando o coração seco, estarrecido pela ganância transbordou a sentença: jamais terás paz, nunca serás alguém, sonhos teus não serão possíveis; na tenra idade o silencio calou a dor, e a vida se encarrega de responder toda ofensa, ainda que o acusador aos olhos do seu pequeno mundinho fétido seja visto como vítima.

Olhe bem, olhe duas vezes se preciso for, atente não ao acusado, olhe para quem aponta, para quem sentencia. Cuidado com abraços fugidos, palavras amenas, amiúde, de voz que parece chorar, de uma fragilidade santa, que na imagem pura e sem mascaras oculta o mal. Cuidado ao cultivar erva daninha, o seu emaranhado demora a se desenrolar, mas a tudo alcança, pois, sua natureza nunca está satisfeita.

Que Nossa Senhora proteja os que julgam filhos alheios, e desconhecem o amor bicho. Que a mãe de Deus acolha filhos feridos por palavras mentirosas, enganosas, difamatórias, preconceituosas, machistas. Quando Pedro fala de Paulo, sei mais sobre Pedro que de Paulo. Que Maria, interceda por todos os que julgam a verdade de cada um, piedade advogada, pois somos todos pecadores, mas alguns se esquecem disso, e por esquecimento nem ao menos um telhado ainda que de vidro lhes restara, pois nada  poderá salvar dos raios justiceiros que recairão nas noites sombrias de tempestades a qual tua alma enfrentara.

Louvado seja o teu perdão, bendito seja o teu perdão, pois entontecida pela luxuria, pelo que não era amor, pelo que não se tem respeito a mesa, para paúra de todos os anjos servidão ao que lhe alimentava no sustento enquanto outro, pasmem, lhe devorava na cama suja, enlameada! Louvado seja o teu perdão por tanta vaidade, louvado seja o teu perdão por tanto egoísmo, por tanta intromissão, por tamanha dissimulação, pela psicopatia que lhe acompanha, por fingires uma devoção que não mais se sustenta, uma devoção que fechou os olhos, que não se conteve, que esqueceu do ato final. Louvado seja o teu perdão por tamanha falsidade, por tanta esperteza, por acreditar somente nos anos que se passaram e que realizaram todas as tuas vontades maléficas e destruidoras, louvado seja o teu perdão por tão ledo engano.

Paz ao coração do que afasta, do que semeia discórdia, do que oculta o sombrio desejo, do que desdenha da força do sangue, do amor verdadeiro, paz ao que impede o abraço, a presença, paz ao que se faz engolir a todo custo como se dissesse: sou maior que você, sou maior do que seu amor, sou gigante diante de tudo. Paz ao que comemora a destruição.

Que Deus tenha piedade das mãos que aplaudem ausências consentidas com dor, tristeza, choro. Piedade ao causador, ao motivo, ao silencio que protegia algo bem maior, desconhecido por aquele que não senti, seco de alma, seco de vida, de brilho. Apenas a inveja lhe reluz os olhos.

Que Deus me perdoe por todo o silencio, por essa oração tardia, pelo coração que agora navega revolto por tanta falta de respeito, que Deus perdoe a mim pelo anos de apatia, os quais poderiam ter lhe dado mais algum tempo, mas acima de qualquer coisa que Deus perdoe as suas escolhas impensadas que feriram os que mais lhe amaram, e os quais jamais lhe esquecerão.

Deus Seja Louvado

 

visao-de-hamlet1*

  • Visão de Hamlet por Pedro Américo – 1893
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Autor: ela...

Elaine. Ela. Helena. 17. Setembro. Há alguns anos atrás. Ascendente em peixes. Brasil. Santista de nascimento. Baiana de descendência. Mineira de coração e endereço. Muitas e de muitos tamanhos. Letras, palavras, frases. Nossa Senhora Aparecida. Família. Música. Sol. Brisa. Luar. Prefiro mar. Branco. Tenho uma irmã mais nova. Minha maior paixão tem mais de 100 anos. Abraço. Meu pensamento é hiperativo. Tenho os melhores amigos. Cometo ao menos um erro todos os dias. Converso com Deus. Já mudei de emprego três vezes, já mudei de vida outras varias. Por do sol. Não faço nada sem dois ingredientes: paixão e entusiasmo. Primavera. Beijo. Horizonte. Esperança. Cinema, quadros, composições. Já machuquei quem não merecia. Olhar. Exagerada e sensível. Carente. Bagunceira. Transparente. Meu primeiro livro publicado e grande orgulho: Quando Florescem as Orquídeas. Tenho um blog e uma coluna semanal em um jornal do interior. No mais sou abençoada. Sei dizer apenas que tudo passa!E que eu sou bem feliz! D.S.L

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