Deram-me a dádiva de te ver em algum lugar do tempo, escolhi vê-lo menino.
Ao longe colocaram-me para te observar: franzino, de pernas secas e canelas russas, descalço na terra vermelha, no rosto uma mescla de sapequice, curiosidade e a naturalidade de tudo cabível a todo menino criado no mato, na roça, em meio a bichos e colo de mãe no fim do dia.
Levado, inquieto, perdido entre a grandeza dos pastos que se faziam seus, afinal, menino é dono de tudo aonde seus pés possam alcançar, e então você se fazia boiadeiro, fazendeiro, montador de cavalo bravo, numero um na corrida de assustar galinhas espalhando-as desorientadas entre suas gargalhadas. Especialista em derrubar fruta do pé, observador da arquitetura do João de barro, mas o canto que lhe prendia entontecido era o do Sabiá, a majestade! Leite fresco, quente, sem ferver, tomado na caneca esmaltada corroída pelo tempo, como consequência uma dor de barriga que o fazia rolar na grama verde com as pequenas mãos no colo até passar, pois bronca de mãe não tinha, era ela doçura infinita, jamais bronca, coça nem pensar, aquela Maria era só colo, só ventre, destino de amar, amar, amar; o próximo, o vizinho, o que lhe fazia mal, destino de amar seus meninos, os dos outros, amor universal, mas leoa brava, difícil de enfrentar caso ferissem ente querido, filho, neto, não podia zangar, não podia bater, ai de quem machucasse, mas cedo Maria fechou os olhos, e agora outra vez posso vê-la observar mais um menino seu que volta para seu colo.
Ah Maria… Bronqueia por mim esse teu menino, pois ele foi-se embora cedo demais.
Colhia jabuticaba no pé, e lhe encantava a elegância da moça ao agradecer sorrindo sobre o mau jeito do menino de colocá-las apertadas entre a camisa pequena que esticava com as mãos. Apanhava mangas, as mais doces, e escondido as oferecia a outra menina, essa baiana, de frente forte, mas coração justo, puro e amor verdadeiro, a sua nega, só dele! Colhia flores, as depositava em vaso velho jogado fora, e garantia o agradecimento de uma pequena, feita da menina que ele amou como filha.
Quanto a mim que o observava como se só restasse ele de menino nesse mundo inteiro, fui surpreendida pela sua corrida em minha direção, chegou sorrindo, agarrou minhas mãos e as beijou, com a voz embargada consegui agradecer, foi quando ele se debruçou sobre meu colo e nos abraçamos, pude acarinhar seus cabelos, beijar-lhe a face suada, pedindo em silencio que Deus o abençoasse, ele permaneceu quieto em nosso abraço, e o coração que antes batia apressado da corrida de sempre se aquietou em meu colo; mas era menino e suas muitas meninices o esperavam, desfez-se o nosso abraço e sorrindo quando lhe perguntei aonde ele iria, respondeu-me já correndo:
_ Estou voltando pra casa!
Ah menino… Deus lhe abençoe, ilumine e enfeitei seus caminhos com muitos pássaros.
Deus Seja Louvado!
E.T: menções a Mabel Guimarães a moça das jabuticabas, a pequena Sarah de Daniele Guimarães e seu vasinho de flores e Nair de Jesus a nega