Não sei se adoto um cachorro ou se não me levanto mais da cama, se tomo um porre, ou faço uma peregrinação em busca de paz. Desfazer as redes sociais? Voto de silencio? Ansiolíticos, analgésicos, antibióticos? Queimar todos os livros de minha prateleira, uma tatuagem, férias, roça, praia, montanha, um show de heavy metal ou uma noite de boemia regada a muita MPB. Algumas garrafas de vinho com um amigo?
Um filho?
Brigar, discutir, tornar-me estúpida, quem sabe o machismo, o preconceito, a extrema direita, votar naquele que ultimamente ninguém menciona o nome (mas que tem incomodado tanto, porque votar nele só pode ser protesto, não é ideologia não; Ou é?). Gritar: ecoar a alma em algum desfiladeiro até sangrar a garganta. Parar de tentar comer, parar de tentar dormir, parar de tentar sorrir, parar, parar, parar.
Contorcer todos os dedos até provocar uma fratura exposta na mão, qualquer coisa que doa menos, qualquer dor que desvie os sentidos desse sangramento, qualquer dor ou amor que acalme a tempestade que há em mim, esse vento forte que levanta areia e machuca meus olhos.
Qualquer dor, ou amor, qualquer historia que você possa existir novamente.
Entendo tudo: cessou o sofrimento, a angustia, é a lei da vida, continuamos em outro lugar, Deus sabe o que faz. Creio na força da fé, no tempo que tudo cura, nas mãos de Deus que operam milagres invisíveis; convicção plena do quanto Deus é Deus, e do quanto lhe sou imensuravelmente grata inclusive por você, mas precisa parar de sangrar. Precisa parar, porque dói de maneira irracional, não há explicação, teoria; sei que o tempo ira amenizar, mas até lá o que fazer?
Você esta bem, refazendo-se em luz, você me disse, era você outra vez, e eu te falei que não se preocupasse que o importante era que agora estava tudo bem, mas ainda assim continua a doer, e a culpa é minha, pois eu não sei amar pouco, não sei amar pela metade, não sei sentir nada raso, a culpa é minha: não sei sentir falta sem rasgar a pele, não sei chorar se não encher um oceano, a culpa é minha por precisar escrever, por ter que apagar esse cigarro aceso no peito*, porque não sei gritar de outra forma, não sei falar de outro jeito, não sou completa, falta-me a explosão, não quebro por fora, a minha demolição é ao avesso.
Você deixou a vida para seguir adiante, e a mim resta amar para continuar.
D.S.L