Até que ponto você é só um personagem? Quando foi a ultima vez que sorriu sem flash, longe da linha do tempo, do vídeo, do instante para o outro? Pra quem faz dieta, vai pra academia, pra festa, e por você?O que é por você? Ser igual a todo mundo é bem mais trabalhoso do que se imagina!
Dispenso a noitada do ano, novos encontros, descompromissada com qualquer tipo de flerte, sem essa de começar uma nova historia, livre da necessidade de conhecer “aquele certo alguém”. Quando foi que você ficou só sem sentir medo, sem lamentar o vazio? O que lhe preenche?
Desolada, quieta, rasteira, encarada no espelho, refletida na fumaça, longe da obrigatoriedade de se dividir, apenas um copo sobre a mesa, bem sei: pode ser assustador, mas aprendi a conviver com meus fantasmas. Não ser nada pra ninguém: nem musica, nem alento, nem alegria, apenas dona de si. Quando foi que você achou poesia nos seus olhos? Inteiramente sua, alheia a qualquer outro sentimento, de mãos dadas com um amor próprio de fazer ciúme a qualquer carência.
Quando foi que você decidiu que precisa andar sozinha? Quando foi que percebeu que nadar no raso machuca, e que a profundidade de sua alma não cabe onde a entrega é ausente.
Qual a ultima musica que você dançou sozinha, entontecida de alegria, egoísta, calculista, sem invasões.
Qual é o mar que convida você e eu? Mas quem é você, já que esse sonho é do mar, e do meu querer? Quem é você?
Você é a lembrança grande e cheia de assombro que desgasta meu pensamento, ou será que estou enganada? Será que saudades é amor, ou apenas teimosia, aquela velha birra que implica com a vida para saber como seria. Você é o amor possível que não soube ficar, que se perdeu e que ainda é amor, mesmo sem saber como recomeçar, mas essas linhas não receberam permissão para falar sobre você, hoje vocês ficam na areia.
Hoje eu quero ser mar!
Existe um terceiro, que me serve como travesseiro, o qual não tenho medo de me confessar, pois ele também sou eu, incapaz de surrupiar o mínimo de sentido, silencioso, apenas soma, não altera, não acelera, não cobra, nem julga, ao avesso me cuida, me leva pra casa e como um anjo permite que eu adormeça em sua cama, pedindo que eu reze por seus sonhos desconhecidos e inconfessáveis; em sigilo conhece o que não sei disfarçar, é o reflexo do meu medo, és o anseio do meu destino, és o presente mais bonito que tenho em mim, sem sombra ou passado, és meu soldado, sempre alerta ao instante de um olhar.
Existe um terceiro, fiel escudeiro nessa guerra contra o cotidiano, minha bala de prata frente a essa crueldade cinza e sem sentido, um menino, apenas um menino que corre de mãos dadas comigo pelos caminhos do mar, um viajante que me acompanha por todos os meus sonhos, o qual desejo sempre comigo.
D.S.L