Em mundo cheio de tecnologia, maquinas, e tudo o que muda em uma fração de segundos devido a esse tufão de informações que nos embaraçam os olhos, e que na maioria das vezes não nos serve para nada; sento no quintal, boa musica tocam mais que meus ouvidos, perplexidade diante do canto de um pássaro novo, talvez nem ele saiba o quanto canta, e assim a poesia e a paz tiram de mim tudo o que preciso esquecer.
Esqueço o corpo cansado e ansioso, perco-me no branco do céu, as cores ao redor estão vivas, tatuam a pele, posso senti-las: felicidade, plenitude e a alma organizada por palavras que não tem pressa.
O ar não pesa, a roupa não aperta, a cabeça não dói, e meus olhos voltam a ser os mesmos de quando escrevi minhas primeiras linhas, voltei a ter sentimentos que foram se perdendo pelo tempo.
Rodeada por pessoas desaceleradas em suas peculiaridades, cada uma com uma bagagem, cada qual com a mala pronta, prestes a ir de encontro a algum sonho, o qual pode estar na esquina, ou do outro lado do oceano, não importa, sonhar é precioso demais para buscar explicações, pois uma constatação é comum a todos: a vida é parceira, como o universo inteiro que por vezes, ainda que por alguns instantes é só amor.
O poeta entoa: não me deixe esquecer: a gente não precisa de nada* , um mantra, e ao cantá-lo sonoramente, de olhos fechado, ele faz mais sentido do que precisa. Vaidades libertam o coração das sombras, deixo pra depois, bem pra lá das frustrações o que ainda não deu certo hoje.
Certeza de que a esperança é verde, é ela que roça minha pele enquanto observo as estrelas deitada na grama, o mar dentro de mim é a vista que faz repousar a alma em um lugar ainda sem nome, que não fora descoberto por nenhuma palavra, mas que soa bonito mesmo sem pronuncia, não é verbo, nem adjetivo, mas compreende amor, agradecimento, e paz.
Um dia hei de largar tudo o que não sou.
Quem sabe comprar um barco e agradecer ao mestre em cada porto o conselho que me fora dado quando o indaguei sobre o que fazer diante de tantos sonhos: navegue, respondeu Ele com a voz noturna, embalando-me para que voltasse a sonhar.
A gente não precisa de nada, é o mesmo que pedir um abraço, olhar as estrelas, encontrar o sorriso desavisado de uma criança, andar na chuva escondendo a sombrinha dentro da bolsa. Não me deixe esquecer: a gente não precisa de nada é o mesmo que suplicar para dar voz ao coração, decretar felicidade a quem deixou o sorriso morrer quando se perdeu nesse mundo de coisas desnecessárias, a gente não precisa de nada é o grito que ecoa nessa alma de menina.
Um quintal, flores, arvores, e tardes sempre eternas de primavera, esse é o meu destino, afinal a gente não precisa de nada, pois a poesia só é possível quando se deixa esquecer.
D.S.L
*referencia a musica Mantra, do pássaro(compositor) Rubel
*foto: Rafael Aguiar