Minha avó costuma dizer que só tenho tamanho e besteira, ela tem toda razão. Sou toda grande: um exagero desproporcional a minha baixa estatura.
Braços grandes, que se esticam em manhãs bonitas em busca do sol, em uma espécie de clamor a coragem para recomeçar, capazes de enlaçar por um minuto em busca de reter o momento que o futuro tantas vezes teima em dizer que é passado; costas largas para suportar o peso das horas, dos dias, do silencio, da calmaria. Boca enorme, sorriso grande de palhaço que não sabe porque ri, apenas ri, pois é isso que importa: vencer a tristeza dos dias e sorrir; mãos que buscam proteção, captando a luminosidade do que não pode ser tocado; dona de um nariz avantajado, desajeita, destrambelhada.
Um excesso ocasionado pelos instantes de poesia, musica, e dias tão bem vividos no mar, donos de uma beleza pura e dilacerante que faz querer cantar e pular e sorrir e ter sonhos e assim tudo sem pausa, sem vírgula, sem protocolo, quase sufocando, trôpego, tremulo. Sonhos e mais sonhos que jamais irão bastar, que não cansam de existir, que rabiscam a vida providenciando tudo o que mais lhe encanta.
Minha avó diz que só tenho tamanho e besteira, respondo que tenho mais besteira do que tamanho, e uma loucura de saber as coisas, tocá-las, ouvi-las, e ver de perto quase sem ângulo o que pode ser delas, dessas coisas vãs, fugidas e lindas.
Besteira e tamanho! O mesmo que nada, ainda que completa por palavras alheias de gente jamais vista, mas sentida de forma tão verdadeira.
Besteira: olhar o mundo, encantar-se por ele e partir no próximo disco voador, ou de carona nas asas de um querubim, quem disse que discos voadores não existem é a mesma pessoa que não acredita em querubins! É você que não vê, seus olhos estão cegos, portanto não tente me enganar: sei que há muita vida por ai, e tanta ilusão a ser descoberta, mas ainda há pouca coberta para cobrir a alma de um sonhador, ainda assim debaixo de meus sonhos sem chão, vejo as estrelas e elas me bastam para acreditar.
É isso: tamanho e besteira, o tamanho, o tanto que parece grande, e um pouco sábio, e as vezes um tanto sem jeito, é teu, teus olhos veem assim: grande. A besteira vem dos céus, de Deus, de tudo o que Ele me ensinou a tocar com os olhos, com a alma, plantando em mim toda essa predileção ao encantamento, o qual creio: jamais caberão em uma só vida, pois a vida, ah… Tenho algo dizer sobre a vida: ela é tão bonita que dói.
D.S.L