Atacada, assaltada, violentada, corrompida, a todo custo querem tirar-me o ar, não este que respiramos, mas o também vital que nos faz brilhar a alma e prosseguir, querem a todo custo roubar-me a esperança, sinto-me como uma presa amarrada e torturada em uma sala escura, debatendo-me a todo instante, de mãos atadas procurando uma forma de desvencilhar as ataduras nas mãos machucadas, encontrar a luz e viver novamente a poesia, a liberdade, aquele bom da vida que parece ter sido sacrificado por tanta tristeza, maldade, inveja e violência.
As noticias são as piores, vivemos a cultura do preconceito, do machismo, do achismo, da violência, da intolerância, da desigualdade, da corrupção, do estupro, do racismo, vivemos a cultura do egoísmo, do egoísmo, do egoísmo.
Como entender que uma criança de nove, dez, onze anos esta disposta a matar? A roubar? É de uma perplexidade inacreditável, é espantoso se deparar com esse tipo de maldade instaurada tão precocemente, do alto de minha imaginação, distante da cena olho para esse garoto e procuro em seus olhos embotados de ódio uma criança que morreu. Porque, ou por quem, sua infância foi assassinada? Com espanto lhe diria: você é só um menino.
O corpo do outro, a dor de todas, a violência de tantos, a prepotência da propriedade do que nunca lhe seria dado, roubam a paz, a vontade de amar, de entregar o corpo, não é doença, nem distúrbio, não é animalesco, nem demoníaco, é tão somente desumano, cruel, não há nada de bárbaro ou viril em um estupro, não é culpa da vitima, da saia, do horário, da bebida, a culpa é da sua covardia, do seu desejo de querer a todo custo intimidar. Covarde, covarde, mil vezes covarde!
Nascemos livres e tão bonitos, choramos a morte de formigas, viajamos pelo céu em busca de desvendar a forma de cada nuvem, brincamos de chegar mais rápido a um ponto de dois passos, bom dia senhor sol, até mais dona lua, a joaninha na ponta do dedo, a areia na palma da mão fazendo cócegas, a gargalhada sem sentido e contagiante, o joelho sangrando e o medo de nunca mais curar aquela dor, somos donos de uma poesia natural, portanto discordo de quem acredita que o ser humano é mau por natureza.
Aprendemos a maldade, instauramos mais essa cultura em nossa sociedade doente, e o resultado esta lhe apontando uma faca nesse instante, o resultado acaba de invadir um aeroporto cheio de explosivos, o resultado esta sentado no congresso roubando merenda, saúde, educação, roubando sua esperança, o resultado esta tampando a boca de sua esposa enquanto a espanca na frente dos filhos, esse é o resultado do que você chama de opinião, religião, cultura.
Ensine seu filho a devolver o que é do outro, a respeitar o que não é espelho, seja pela textura do cabelo ou pela cor de pele, que não é bonito rir do colega que prefere bonecas, ou maquilagem, que prefere a dança ao futebol, ensine seu filho claramente o sentido da palavra não, ensine a respeitar o ser humano, falar do outro é feio filhinho, sem esse papo de sexo frágil e rosa, e todo esse blá blá blá que dita a cartilha desses machistas em miniatura, ensine seu filho sem ladainha, ensine que ele é único e especial, mas que não esta sozinho no mundo, diga as suas meninas que sim: elas podem jogar futebol, ter carrinhos, pilotar aviões, ser astronauta, ensine sua filha que a beleza, aquela que realmente importa vem de dentro, ensine a fazer escolhas e a honrar suas consequências, ensine seres humanos a ter corações mais bonitos e menos egoístas, e se você, é você: que sonha em ser mãe, pai, se não estiver com disposição, paciência, tempo, ou saco para ensinar, aprenda de uma vez por todas: não tenha filhos.
D.S.L