Vá lá fora e respire um pouco, sugeriu um amigo.
Assenti com a cabeça, e instintivamente ele se propôs a ir comigo, o impedi, precisava ouvir apenas o som de minha respiração. Sai procurando o ar como alguém que esta confinado a anos em quarto fechado e escuro, minha atitude em nada lembrava a de uma pessoa que esta em uma festa rodeada por sorrisos e conversas alheias a minha falta de ar e de espaço.
Já faz um tempo que não caibo em mim, sobram-me pensamentos durante essas noites frias e saudosas do brilho das estrelas, o inverno nunca me fez bem, mas este tem o sabor amargo da ausência de esperança, a realidade tem ofuscado de meus olhos o sonho, a ilusão, farta verdade que dilacera os sentidos. Falta-me animo pela manha diante de mais um dia onde pareço um eletrodoméstico que automaticamente vem cumprindo suas funções a vários anos, estou gasto, cansado, a ponto de um colapso, qualquer dia vou superaquecer, ter um curto circuito e enlouquecer.
Quem é que vai me jogar fora quando der defeito? Ou melhor, quem será o próximo a me dizer até nunca mais? A quem mandarei embora em silencio, quem mais estará distante por essa ausência de palavras, ainda que tantas vezes elas transbordem, tantas me faltam, e tantas me calam e me fazem sufocar.
Respirei a primeira vez e o corpo reagiu tremulo ao estimulo, mais uma longa respiração e as mãos foram se aquietando, da terceira vez o coração um pouco menos acelerado deu lugar a serenidade anestesiando o choro, não iria chorar, não aquela noite. Respirei paz e inspirei saudade.
A saudade fez meus olhos percorrerem todas aquelas luzes que pareciam mais brilhantes do alto daquele prédio, fez correr meus pensamentos por ruas onde sei não te encontrar, é como se a cada esquina encontra-se um bilhete com sua letra bonita dizendo apenas: nós dois nunca mais. Cerrei os olhos, respirei fundo novamente e meu silencio mais uma vez calou tudo o que já não posso e não devo te dizer, restou em meu pensamento paredes brancas que desenham repetidamente com tua letra bonita as únicas palavras que nos resta: nós dois nunca mais.
_ Esta na hora. Você esta bem?
Assenti que sim, ainda surpreso com a chegada de meu amigo.
No elevador perguntei como ele sabia que me encontraria ali.
Respondeu-me com um sorriso triste, que a saudade procura por espaço quando não pode chorar.
D.S.L
**imagem incrível do projeto Private Moon de Leonid Tishkov