Hoje a noite o céu sorriu. Não, dessa vez não foi um devaneio, ele de fato sorriu, parece que duas estrelas resolveram se juntar a lua crescente, enquanto o planeta Venus brilhando intensamente comprometeu-se a fazer o papel de nariz do esboço de rosto que clareou o breu da noite. Esse espetáculo pode ser visto a olho nu, por qualquer um que por algum motivo, ainda que distraído voltasse o olhar em busca da companhia de algo que lhe tire um pouco da terra.
As estrelas sempre me levam para algum lugar: para uma lembrança bonita do passado, uma saudade boa de ter, ou o vislumbre de um sonho, é quando a realidade adormece e deixa a porta entre aberta, e por essa fresta espio algum momento que meus olhos querem enxergar, o qual todas as noites em oração suplico que aconteça.
O céu sorriu, e quem sabe a vida não comece a imitá-lo e enfim sorria, ou melhor, gargalhe, quem sabe não seja esse um anuncio de que tudo ficara mais harmônico, quem sabe a partir de agora as noticias comecem a melhorar, e a vida intensifique o seu brilho constrangendo esses tantos acontecimentos de imensurável tristeza que os jornais estampam: descaso, desamparo, corrupção, e mentiras as quais por sua vez contaminam a vida com uma incredulidade em um amanha melhor.
Pasmem, mas o vento já conversou comigo, ordens divina obviamente, e no bailar de suas folhas sobre o chão de asfalto ele me declarou que tudo daria certo, não sei dizer o que esse “tudo” significa; mistérios divinos obviamente.
Certa vez a pétala de uma flor curou-me uma ferida na alma com sua beleza. A chuva já secou meu rosto de tantas lagrimas, e o mar noutra ocasião mandou embora uma tristeza terrível que por muitos dias fez de mim um deserto.
O sol todas as manhas ilumina meus passos, é esta a melhor parte do dia, quando meu rosto parece tomar a luz acendendo a minha alma perdida ainda em algum sonho confuso da madrugada, a vida, o amanhecer que ainda não faz idéia do que trará de novo, ou do que manterá de velho, a luz do dia, os pássaros, o cheiro de orvalho ainda fresco sobre o mundo, o silencio da manha, a vida chegando novamente, fazendo-se acreditar de novo, e mais um pouco e novamente, e mais uma vez, em uma espécie de teste de paciência e fé, para então um dia explodir tão linda e extremamente impossível como fogos de artifício em uma noite de ano novo.
Meus olhos conversam com o mundo, e assim tudo em mim é um oceano cheio de vida e mistérios.
Hoje o céu enfim simplesmente respondeu meu sorriso.
D.S.L