Não permita que todos saibam dos seus caminhos, não deixe seus sonhos expostos ao orvalho, vai que um ou outro enferruje ao relento, ou que algum animal bicho homem ou não o devore.
Há um perigo enorme que nos rodeia silenciosamente, mascarado muitas vezes em um sentimento facilmente confundido com carência, tomem cuidado com quem vive gritando por atenção.
Aquele amigo que te cobra o tempo inteiro, o familiar que esta prestes a um ataque de nervos em busca de um telefonema, aquele “beijo na boca” do fim de semana que te encontrou em uma rede social, descobriu aonde você trabalha, seu bairro, e no primeiro telefonema despede-se dizendo: boa noite acompanhado de um eu te amo, o colega de trabalho que fala incessantemente, não tem folga, não tem paz, urra “batendo no peito”: essa empresa é a minha vida, desconfie nobres senhores dos que acordam apenas para trabalhar, comer e cagar, mantenha certa frieza diante de alguém sem paixão, encanto ou válvula de escape que torne a vida mais branda, bonita e leve.
Os que carregam este peso buscam culpar quem estiver por perto, exigem atenção como desculpa esfarrapada de quem não suporta a própria existência.
Seja comercial, venda sua falsa idéia alienante.
Por quê? Ora essa você é alguém, quer ser alguém, precisa ser enxergado, existe essa necessidade em você. Nada de cabeça baixa, sem humildade, sem coração, pise em alguém se for necessário, afinal você precisa aparecer, jogue com indiretas, culpe a todos por essa sobrevida, pela falta de sorte, pela falta de riso, grite em alto e bom som: preciso de atenção, atenção, atenção! Não pode chorar, não pode sofrer, nem desistir, nem coisa nenhuma, não pode parar, nem ser fraco, não pode!Criticar pode, sempre e muito!
Típico chato ensurdecedor que ninguém suporta, que ninguém quer por perto.
Não seja um produto, não se cerque de falsas intenções, não mantenha a voz doce, meiga, não dissimule, nem seja falso, muito menos cansativo, não fale mais alto do que os outros, não se torne intimidante, inconveniente, não queira o centro das atenções, o foco de tudo raramente é o melhor lugar.
Optei pela tribo dos sapatos gastos pelo caminho percorrido, pela poeira, sol, chuva, tempestade, a sola conta com alguns buracos, são como meus ombros que as vezes sentem o peso do mundo, a tristeza do fim de todas as coisas, mas permanece com o amor que revela compaixão e pinta os olhos com gotejo de lagrima.
Não admito gritar para que alguém permaneça a meu lado, este é meu caminho, vou segui-lo com meus sapatos gastos, no ritmo de meus passos, buscando praticidade sem mascaras que massacram, cabelos presos e pensamentos livres, pois descobri meu lugar no mundo, não imploro por atenção, se a tenho é merecimento, saibam todos:amor e carinho são melhores do que holofotes, é decreto em meu peito: não me machuco com quem claramente não se importa.
Declaro-me de pouco e bom valor, mescla de timidez e simplicidade.
“Coisa” opaca procurando não fazer barulho.
Ora essa que a poesia me baste, e que o sonho se realize aos poucos, pois assim não perde a graça, que meus dias encontre a brevidade da vitoria que se encerra todas as noites, pois a cada manha os sapatos gastos estarão a posto para caminhar em busca de cumprir tão somente a minha verdade.
Um dia os pés estarão descalços, livres a brincar percorrendo um novo caminho iluminado por uma luz de fazer inveja a qualquer holofote.
D.S.L