Não sei dizer se por desconfiança, experiência ou adivinhação no começo deste ano solicitei ao tempo que não se apressasse em suas horas, fora na verdade quase uma ordem: passe devagar, nos de tempo.
Ele não me ouviu, pisquei os olhos e lá se foram mais um carnaval, páscoa, copa do mundo, festas juninas, férias escolares, eis que chegamos ao mês de agosto.
A vida caminha, ou melhor, corre a passos tão largos e rápidos que mal consigo fazer um balanço de tudo o que já vai ficando tão para trás, o passado nunca passou tão rápido, e muitas vezes quero apenas parar um pouco, ter tempo para estar quieta, aconchegada em algum momento que se rebele contra toda essa correria e demore um pouco mais a passar.
Eu quero mais tempo!
Muito em breve terei mais uma linda primavera, é sabido de todos que se trata de minha estação do ano favorita, setembro é inegavelmente apaixonante, e por todas as sutilezas do tempo em questão dessa vez suplico: passe devagar, pois acredito que tudo o que foi plantado durante os oito meses passados esta pronto para ser colhido, é arregaçar as mangas, admirar os frutos e desfrutar deste restinho de ano que tem gosto de fruta madura. Setembro é aquele mês que conseguimos respirar e dizer aliviados: até aqui tenho conseguido, preparando-se assim para novos horizontes, vôos e sonhos imensuráveis de tão belos.
O tempo… Tenho medo que ele esteja sendo roubado, como nesses filmes de ficção cientifica, onde algum alienígena vem a terra e o rouba por constatar o pouco valor que damos a ele.
Na correria do dia a dia, nas muitas quarenta e quatro horas desgastantes que precisamos cumprir diante do cartão de ponto do trabalho cansativo e árduo desempenhado para nos sustentar, é injusto tanto tempo dedicado fora de casa, longe de quem amamos, muitas vezes perto de quem nada nos acrescenta apenas nos cansa, é doloroso pensar na vida lá fora, no sorriso do filho preso em casa com saudades de brincar com a mãe, do mar em um dia de verão, onde a praia se mantém vazia tornando-se moradora do imaginário de qualquer aprisionado em uma sala branca cheia de papeis que não lhe alforria para contemplar a vida, é injusto não ter escolha, é triste não ser livre, é cruel e covarde não poder declarar: largarei tudo, viverei sabe-se Deus de que, decidi ter tempo para minhas plantas, meus bichos, livros, discos, escolhi pintar quadros de pássaros na praça, decidi fotografar o mundo tendo como única propriedade uma mochila e muitos olhares. Sim senhores! Enlouqueci: tive coragem de largar o mundo, quebrar meus relógios, despertar livremente quando os olhos têm vontade, optei por viver mais para mim…
Tive assim um sonho doce que terminou com o despertador tocando me fazendo lembrar que meu tempo esta vendido por um preço inadequado diante de todas as outras coisas que gostaria de fazer.
Tenho medo de não ter tempo para conhecer tudo, arriscar mais, viver pessoas do bem, medo de que essas horas vendidas me roubem o encanto, o desfrute, a vida. Deus me livre desse mal do século, tendo misericórdia dessa minha alma que anseia por encantar-se sempre e cada vez mais.
Senhor tempo passe devagar a partir de agora…
D.S.L
muito, muito bom escriba. parabéns!
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Lindas palavras que nos fazem refletir sobre a nossa vida. Talvez seja hora mesmo de ver o mundo ao nosso redor com um olhar renovado. Isso me fez lembrar do livro “Fierry- Diálogos com o tempo” de Paulo Caldeira.
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