Acompanho atentamente a conversa de dois adolescentes em uma lanchonete:
_ Comprei esse tablet ontem, olha que legal?
_ Nossa! É o modelo novo. Depois vejo melhor, meu iphone esta tocando.
_ Você trouxe seu “note”?
_ Trouxe sim, por quê?
_ Quero aquele jogo novo que você conseguiu.
_ Ah! Aquele jogo esta no computador de mesa lá em casa, mas gravo pra você no cartão de memória.
_ Você viu a campanha nova daquela camisaria importada?
_ Comprei um boné da coleção, a marca é muito top.
_ Vou comprar uma camisa.
Tudo bem em falar de tecnologia, e outras coisas superficiais como roupas, acessórios, a molecada gosta disso, sempre gostou, mas o tom da conversa dos dois era daquele tipo: eu posso mais que você, seguido daquele que soa pior ainda: sou mais que você, ou pior, tenho mais que você.
Típica conversa burguesa. Nada contra quem veste a camisa da burguesia, ou melhor, nos tempos atuais as etiquetas, afinal são muitas as pessoas que se impressionam com essa espécie de beleza que vem de dentro da carteira.
A existência de profundidade, sensibilidade, humanismo, igualdade e compaixão são para outra espécie de gente, de cabeça, de coração, por mais que se queira incitar a paz, a gentileza, a educação, a solidariedade, pelas redes sociais e mídias em geral, é fato: uns nascem com isso, outros não, alguns ate tentam entrar na “onda” midiática de que fazer o bem é legal, mas soa falso e as contradição acabam aparecendo mais cedo ou mais tarde: seja humilhando alguém, maltratando um animal, um morador de rua, ou qualquer um que lhe excite a ideia de superioridade.
Ninguém é cem por cento bom, ou ruim, ou cem por cento fútil, ou profundo, mas a ostentação é o que difere as pessoas nessa historia toda.
Deixamos de ser, para nos transformarmos nesse amontoado de coisas, que perdem sua necessidade quando nos sentimos sozinhos e percebemos que o que temos é tão pouco e sem importância.
A pergunta que não quer calar é: até onde estas coisas nos fazem felizes? Será necessário tanta parafernália? Tudo isso que ostentas é você?
A leitura que faço é: essas coisas todas, medem o seu caráter?
E a vida lá fora? Longe do wi-fi, do smartphone, fora da tela das redes sociais onde todos posam de bonzinhos, invejados, bem sucedidos e jamais estão tristes ou amedrontados.
Aonde foi parar a coragem nossa de cada dia? A emoção de compartilhar olhares ao invés de postagens?
Será que ninguém mais sabe conversar sobre coisas que não são coisas? Será que os “malucos beleza” estão de fato extintos? Eles deixaram de sentir o sol, o mar, para copiarem imagens prontas e distantes dessas paisagens que fazem parte daquilo que eles tem de melhor?
Permutamos o arrepio na pele, o coração acelerar, por mais uma “curtida” ou pelo vibrar do telefone?
Talvez o maior sonho do homem, seja criar o próprio homem, creio que não estamos distantes disso, afinal ser humano hoje em dia é tão previsível e sem emoção, estamos a poucos passos de imitar as maquinas.
E você, há quanto tempo não admira o por do sol?
D.S.L
*Foto: Entardecer em Colatina (ES). Autor Joel Rogerio. PONTE FLORENTINO AVIDOS