Vivia em uma caixa, não sei dizer se quando entrei nela ainda era pequena ou se ela é que era grande demais. O espaço era aconchegante, temperatura sempre ambiente, não sentia calor nem frio, sentia-me segura, e o que realmente importava era que cabia dentro dela todo meu corpo, com espaços para respirar, andar, gesticular, sorrir.
Mesmo dentro da caixa conseguia visualizar o lado de fora que me parecia bonito e bem interessante, mas enquanto a caixa era confortável não tinha por que deixa-la.
Algumas pessoas me visitavam, quando isso acontecia era um pouco incomodo porque a caixa era um espaço único, individual, não cabia mais ninguém e se ficasse muito apertado ela podia ruir.
Esticava o pescoço e com as mãos apoiava nas bordas, tudo para contemplar o outro lado, mesmo com os pés pendurados, e os braços cansados pela a força exercida suportava a dor até desfalecer, e então eu caia dentro da caixa novamente, às vezes passava dias sem me mover, mas a visão valia a pena.
O lado de fora com o passar do tempo parecia mais e mais bonito, enquanto me era possível, ficava a observar tudo ao redor daquela caixa, e inevitavelmente comecei a querer sair e a sonhar toda uma vida nova fora dali.
Conforme essa vontade foi crescendo, fui observando o quanto tudo dentro da caixa era na verdade tenebroso ao invés de seguro, as paredes começaram a me fazer sentir medo, sufocar, comecei a arranhá-las, quem sabe conseguiria abrir um buraco, já não havia paz, e meu corpo antes tão aconchegado aquele espaço pareceu crescer de uma hora pra outra, quase não conseguia respirar, sentia forte calor, minhas mãos suavam tanto que já não conseguiam se sustentar a borda, e a caixa de repente ficou pequena demais para tudo.
Comecei a sentir dores insuportáveis, me debati até sangrar varias vezes, e como castigo a caixa parecia ficar cada vez menor, ou melhor, talvez fosse eu que estava a crescer cada vez mais.
O mais aterrorizante era não saber como sair, talvez se alguém ouvisse meus gritos, ou então os ruídos do meu corpo a se debater, aqueles que um dia me visitaram poderiam lembrar de mim e voltar, mas nada disso aconteceu e então resolvi lutar.
Comecei a me sacudir e a caixa se pos a rodar, parecendo despencar uma ribanceira, não sei quanto tempo permaneci vendo o mundo girar naquela rapidez, não havia uma parte de meu corpo que não doesse, mantinha as mãos em sinal de cruz rente ao peito como se estivesse a proteger o coração enquanto tudo girava sem parar, pois enfim algo havia sido feito.
A velocidade foi diminuindo e a caixa parou, juntei todas as minhas forças, respirei fundo e de uma só vez, descruzando os braços e desprotegendo o coração, estiquei todo meu corpo, a luz do sol invadiu meus olhos quando os abri, ao perceber que minha pele sentia a brisa fresca daquela manha em que me libertei.
Posso sentir medo, frio, dor, ser abandonada, me sentir só e fragilizado o coração, mas nunca mais voltarei a ver o mundo de outro ângulo que não me seja privilegiado a vista para o horizonte.
O infinito é mais bonito e possível quando não se tem medo de nunca chegar ao fim!
Defino a vida: ilimitada!
D.S.L