O risco deveria ser apenas nas primeiras setenta e duas horas, assim como na medicina, e depois tudo seria bem mais fácil, previsível. Sabia-se que a cura viria, a vida se normalizaria apesar de todo o risco corrido, a dor iria embora, e a preocupação de uma recaída diminuiria consideravelmente.
Quem nunca pensou em invadir um hospital, gritando por um medico que lhe desse um remédio para que as coisas melhorassem que pare de ler essas palavras nesse momento.
As primeiras horas irão te livrar aos poucos das lagrimas, do desespero, da vontade de abandonar tudo, importante salientar que iriam te livrar da atração por objetos cortantes, caixas de tranqüilizantes e demais soluções rápidas, te livrarão do desejo de procurar um cantinho no mundo que caiba apenas você e seu coração machucado, as primeiras horas servirão para que se consiga respirar normalmente, as noites de insônia então darão lugar a madrugadas de sono pesado, sem sonhos, e manhas frias que te fazem desejar não sair da cama.
A vida te cansa e o sono parece ser a cura das horas que se arrastam, tornando-se libertador da angustia, pois enquanto adormecido, a vontade, a saudade, ou seja, lá o que for desaparecem.
Passadas algumas semanas você começa a se acostumar com a nova condição, é como ter um membro arrancado de você, como um mutilado é necessário reaprender a andar, desequilibrado, com medo de cair, sabendo que lhe falta um pedaço. Algumas pessoas costumam adquirir muletas para se sentirem mais seguras, mas não há encosto que resolva, de muletas ou não a caminhada não será fácil.
Então você procura força, seja em alguma nova religião, redobrando a dedicação ao trabalho, amigos esquecidos que você não procurava a séculos, a velha agenda da época de solteiro e para seu castigo, todos eles estão bem, namorando, compromissados, casados, o mundo inteiro parece estar sorrindo, e então você se senti ainda mais longe de todo o resto do mundo, um verdadeiro ET, que carrega na testa uma espécie de pergunta em forma tatuagem: por que eu também não fui feliz?
Não foi apenas mais uma historia como muitos dirão, esta foi “a historia”, aquela que tinha tudo pra dar certo, a qual você sentiu-se novamente envolto nessa redoma de encanto que só o amor é capaz de realizar na vida da gente, essa foi a historia que te fez sorrir tanto a ponto de te fazer pensar que a vida estava a lhe fazer cosquinhas, a historia de momentos que você queria lembrar pra sempre, mas que agora de acordo com seu próprio julgamento e sentença final terá que esquecer.
Não foi apenas uma historia, dessa vez você se sentiu amada, cuidada, o amor te fez sentir importante, dessa vez o sentimento de tão nobre lhe coroava como rainha.
Você tenta disfarçar que tudo esta bem, que foi melhor assim, que apesar de todo esse sentimento forte a vida vai ficar melhor, tenta se convencer de que é só uma questão de tempo, tenta auto afirmar que não havia outro caminho, afinal de contas só o amor não basta, é a base, mas sozinho é tão frágil quanto um bebe engatinhando em direção a um despenhadeiro.
Passear, viajar, ver pessoas, fazer parte do mundo novamente, conhecer, aprender, fazer coisas novas, pois enquanto amado o resto do mundo parecia ter perdido sua importância, o mundo inteiro não era mais conquistado por mãos que seguravam muito dinheiro, ou detinham poder, beleza, ou qualquer outra coisa, o amor tornara todo o resto secundário, a real conquista era a sutileza de mãos dadas que juntas quiseram escrever uma historia possível, repleta de sonhos e de uma eternidade que não suportou a vida.
As primeiras setenta e duas horas passarão mais rápido do que se imagina, difícil é conviver com todas as outras horas em que a saudade sempre lhe remetera ao momento do primeiro olhar onde tudo foi possível.
D.S.L