Provoque-me!
Quero sentir o novo, enxergar algo que me entorpeça os sentidos, que não me aliene, mas que me faça perder o rumo, o jeito.
As pernas tremulas novamente, a boca seca, a dor no estomago como se a vida houvesse nocauteado toda a razão que insistentemente teima em nos acompanhar.
Razão? Pra que razão? Razão de que, por quê?
Quero sair descabelada, sem unhas pintadas, nem roupas a combinarem tons.
Gritar pra todo mundo, ao mundo, mudar de casa, me separar definitivamente dessa gente chata que só pensa em ganhar dinheiro, e mais dinheiro, e que transforma a vida em um roteiro que tem como objetivo final puramente aparecer pros outros, pra mostrar pro outro que vale alguma coisa, que consegui chegar “lá”, mas “lá” é aonde?
“Lá” é uma mesa repleta de papeis cheios de problemas alheios, é o cansaço capaz de te adormecer no caminho pra casa, “lá” equivale às horas em que você perdeu não tendo tempo pra sua própria vida, é o que te arranca da cama ainda com sono, “lá” é o que te faz ter vontade de jogar o despertador no chão ate que ele morra, é suportar gente mesquinha, falsa, fingindo que gosta de você.
Algumas pessoas deveriam ouvir – aos berros – de alguém que elas não são o centro do mundo, deveriam saber que incomodam de uma forma que não é benéfica, ter consciência do quanto seu ar de superioridade na verdade as diminuem.
Chegar “lá” às vezes, muitas vezes, enche o saco, por que nessa brincadeira ninguém se preocupa se você vai se machucar, poucas são as pessoas que te olham de verdade, que te enxergam alem daquilo que para muitos é essencial, para você passou a ser uma grande bobagem, então o “lá” se torna um lugar o qual você já não quer ir, ficar, ou voltar.
Busca incessante por algo novo, mas o novo foi corrompido, comprado, já não é novo, é só uma reformulação do velho, e então você cansa ao ponto de querer ficar em casa, quietinho, quem sabe com a sorte de ser protegido por um abraço que ainda se mantém intacto dessa “poluição”, pois resguardado do resto de tudo conserva o amor, gratuito, que não te impõe ser alguém, alem de você mesmo.
O que afinal de contas vai lhe sobrar como historia? Sua resposta então será: eu cheguei “lá”?
Uma vida inteira compactada, movimentada sem paixão, sem entusiasmo, tão distante do propósito de ir alem, de realmente se superar, uma vida apertada pela gravata, tão pesada quanto a maleta executiva que te acompanha, tão cicatrizada quanto os vários carimbos de viagens a trabalho que se acumulam em um passaporte de folhas amassadas, mas isso não interessa, pois você traçou que o importante era chegar “lá”, “morar no andar de cima”.
Realizar o sonho é o que importa, mesmo que o sonho não lhe leve “lá”, mas tão somente lhe faça feliz!
D.S.L