Por lá nunca estive

Nesses tempos de carnaval, festa que acredito ter começado na Bahia, sendo esse fato ainda não descoberto pelos historiadores, é impossível não pensar em Salvador, ou seja, na Bahia de todos os santos, de todos os ritmos, de todas as raças, e gentes, cores, luzes e tudo mais que só a Bahia parece ter.
È de impressionar o modo como àquela gente transforma em festa tudo o que lhes acontece de bom, e talvez faça festa para espantar o que lhes acontece de ruim.
Acredito que uma vez por mês deva ter um carnaval fora de época por aquelas terras. Nasceu alguém, tal pode ser filho de algum artista ou neto de algum filho de Gandhi, se o menino(a) era por demais esperado então saúdam sua chegada com algum barulho, mesmo que este não provenha dos gigantescos trios elétricos, um rapaz de família pobre que se forma doutor, uma moça que casa, um filho do chão que alcança o sucesso na radio, são motivos de festa, e assim o carnaval por lá não se encerra na quarta – feira de cinzas;
Para eles não existe essa obrigação de dançar, e provar de sua cultura, estar alegre e comemorar em uma data determinada pelo calendário, por isso há na Bahia tanta festa e tanto riso, para tanto basta o coração achar preciso, e isso só depende da vida mostrar sua face feliz, em meio a uma gente que em sua maioria é tão sofrida e carente de tantas coisas.
Por lá nunca estive, mas de ouvi falar sei que é um povo guerreiro, e ao contrario do que dizem as más línguas não ser “chegado” a muito trabalho, penso diferente quando vejo suas mulheres a lavar roupas nas pedras de alguma cachoeira, as baianas na venda de seus quitutes carregando o tabuleiro na cabeça, as crianças engraxando sapatos tão novas e tão aguerridas na luta pela sobrevivência, das garotas perdidas que esperam seu “príncipe encantado” vindo de algum outro pais por suas ruas ladeiradas.
Por lá nunca estive, mas muitas vezes é como se um pouco daquele povo estivesse em mim, com sua fé, sua energia inabalável, sua alegria incontestável, seu berço tão vasto e tão forte de poetas: Jorge Amado, Dorival, Caetano, Gil, das muitas Bahias, dos muitos bahianos, desse povo anônimo que são chamados de “ó meu rei”, reis sem coroas ou brasões, sem capa de veludo ou cetro, reis das ruas do Pelourinho que é parte da historia do sangue derramado pelos negros que viviam cativeiro, e ainda contado pelos mais antigos que ficam a margem das portas de suas velhas casas, sentados espera de alguém que lhes de ouvidos a contar algum causo.
Por lá nunca estive, a não ser em meus sonhos, os quais me trazem seu cheiro de mar, suor, sua energia vibrante de por do sol nas tardes imaginadas em Itapuã, sua vida cotidiana calma e tão irreverente a qual derrama poesia servindo de matéria prima para tanta escrita, musica, filme, carnaval, vida, Bahia!
Povo tão santo e profano, tão verdadeiro e fantasioso, tão crente em tantas crenças, mistura de tudo, é branco de cabelo duro, é preto de olhos verdes, é índio de nariz afilado, é jambo de cabelo escorrido, japonês de cabelo cacheado, é samba, é funk, axé, frevo, mpb, até em bossa foi cantada, é batucada, é barulho, donos de uma paz faceira que com calma segue a vida, desejando que ela carregue a mesma alegria que ao mundo faz encantar nos quatro dias de folia que o calendário rabisca, mas que só na Bahia não se acaba, pois só a ela foi dada esse espírito de magia, de madrinha da felicidade, e amor a todos que por lá já estiveram, ou não.
Axé!
D.S.L

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Autor: ela...

Elaine. Ela. Helena. 17. Setembro. Há alguns anos atrás. Ascendente em peixes. Brasil. Santista de nascimento. Baiana de descendência. Mineira de coração e endereço. Muitas e de muitos tamanhos. Letras, palavras, frases. Nossa Senhora Aparecida. Família. Música. Sol. Brisa. Luar. Prefiro mar. Branco. Tenho uma irmã mais nova. Minha maior paixão tem mais de 100 anos. Abraço. Meu pensamento é hiperativo. Tenho os melhores amigos. Cometo ao menos um erro todos os dias. Converso com Deus. Já mudei de emprego três vezes, já mudei de vida outras varias. Por do sol. Não faço nada sem dois ingredientes: paixão e entusiasmo. Primavera. Beijo. Horizonte. Esperança. Cinema, quadros, composições. Já machuquei quem não merecia. Olhar. Exagerada e sensível. Carente. Bagunceira. Transparente. Meu primeiro livro publicado e grande orgulho: Quando Florescem as Orquídeas. Tenho um blog e uma coluna semanal em um jornal do interior. No mais sou abençoada. Sei dizer apenas que tudo passa!E que eu sou bem feliz! D.S.L

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