Queria amanhecer em um dia de sol, daqueles que de tão iluminados ofuscam os olhos. Dias com pano de fundo azul, e nuvens carregadas de uma transparência que passeiam pelo céu bailando no ritmo da vida, o mesmo das pessoas, que então irradiadas por tamanha beleza saem de casa a procura de calor, alegria, como quem brinda a vida.
São dias que parecem nos cutucar e dizer: “Hei! Você: vem viver, vem aproveitar esse dia lindo! Vem experimentar o que a vida pode lhe trazer em meio a esse azul, transfere para imensidão de cada nuvem um sonho teu, e permita que os raios de luz escureçam tua visão a ponto de não reconheceres o que esta a tua frente, e mesmo assim caminhar!”.
Existem pessoas que não ouvem este chamado da vida, e mesmo diante de dias como estes permanecem na inércia.
O mesmo pode acontecer em uma tarde de verão, onde após um dia árduo de calor a chuva forte que refresca a terra, exala perfume de um solo cansado e seco invadido pela água, temos em nós como se assim fossemos parte desta “terra”, pequenos solos espalhados pela vida, muitas vezes secos e cansados, nos vêem a mesma vontade de ser regados pela água fresca, fluida dos céus, para então voltar a exalar não o perfume da terra, mas renovar o cheiro da vida, que em nós muitas vezes é enfraquecido pelo cansaço e a secura de acontecimentos que nos tira o viço nos fazendo brilhar um pouco menos a cada dia.
Deleito-me em dias de sol, manhas que inauguram o dia com o cantar dos pássaros, tardes enfeitiçadas por uma luz cósmica e adornadas assim por iguais a mim com conversas em praças, campos, montanhas, varandas, embaladas por melodias que disfarçam as dores de uma semana inteira, a vida decorrente do cotidiano sempre tão igual e imenso.
Deleito-me no cair do sol, na vinda veloz da primeira estrela que parece correr da lua, sapeca, chamando-a para pousar sobre o lugar do dia e assim não deixar o céu sem luz com a chegada da noite. Convidando novamente a todos a viver então o mistério da vida sobre o brilho diante da escuridão pontilhada de luz do infinito espaço.
Deleito-me sobre a chuva, exalo o perfume enfraquecido ora pela vida, ora por mim, ora pelo coração; dançando feito louca, tirando som das poças, convidando a todos feito criança a também revigorarem a alma pelo mesmo néctar que a tudo faz florescer.
Muitos não aceitam meu convite, balançam a cabeça de um lado a outro, julgam eu estar louca, embriagada, sem nada de importante a fazer na vida, vagabundagem, molecagem! Outros sorriam timidamente, e nos olhos vejo a vontade de estarem ali comigo, mas são mortos pela falta de coragem. Alguns aplaudem, e sem muito pensar mais o “porque” de tudo, despedem-se de sapatos pesados e logo estão descalços a brincar comigo;
Assim vou deixando os que me julgam, assim vou passando pelos inertes que desperdiçam dias de sol, tardes de chuva, noites enluaradas, loucas e enfeitiçadas pelos mistérios da vida. Assim vou me abandonando dentro de mim, explodindo de melodia, exalando o perfume dos dias, com olhos repletos de uma alegria não minha e sim guardada da criança que fui um dia. Assim vou caminhando, passeando pela vida, trilhando minha historia, sempre convidando a quem queira comigo viver tudo aquilo que Deus nos oferece de todas as formas; e sempre saudando a vida, seja ela num instante de dor, ou em um momento de alegria, com um sorriso que jamais se cansa de esperar.
D.S.L
*Imagem do filme Dançando na chuva