Ele sempre chegou sem avisar, mas este ano ele não apareceu se quer um momento que fosse.
Eu havia pressentido que ele não viria, por isso o procurei durante alguns dias entre fotos, fantasias, confetes e serpentinas dos carnavais passados. Mesmo assim não o encontrei.
Na fantasia ainda restava o cheiro de suor, água e fumaça das noites em que envolta a uma alegria superior a qualquer realidade, eu estava lá brincando de ser outra criatura.
Nas varias fotos que paralisaram sorrisos, amores, e todas as cores dos carnavais passados, meu olhar borrou tudo em preto e branco, ele também não estava lá.
Encontrei meu velho nariz de palhaço, junto a peruca colorida que fantasiou outrora a minha liberdade e vontade de estar sempre no palco da vida, sorrindo para a multidão, mesmo que logo na solidão do camarim, ou diante do espelho ao retirar a maquilagem eu borrasse os olhos com as lagrimas da alma do palhaço que deixa de existir ao abandonar a fantasia.
Tentei lançar aos céus os confetes, serpentinas e tudo mais para tentar desenhar novamente um arco íris de luz, cor e alegria que em tantas outras harmonias foram cantadas, entre passos trocados, embriagados pela euforia de brincar o carnaval. Resgatar na memória as ruas por onde meus pés passaram enfeitiçados por uma leveza que sobrepunha qualquer outro pensamento que não fosse a felicidade daqueles momentos onde tudo mais era deixado pra trás.
Não o encontrei em parte alguma, não pude resgata-lo, pois ele sempre esteve dentro de mim. Toda a vontade, alegria e euforia estão aqui, nunca em outro lugar, porém este ano não serão integrantes de algum bloco, guardei minha fantasia, para me vestir da realidade antes que a quarta feira de cinzas se encarregasse como todos os anos de faze-la.
Ano que vem ele volta, quem sabe vestido de uma alegria ainda mais colorida, com uma saudade enorme de cultuar esses dias, onde tudo é esquecido, perdoado e nada, absolutamente nada é pecado.
D.S.L