Flash

Adoro fotografias, elas descobrem o instante, a luz, o sentimento, há toda uma magia no ato dessa captura fantástica.

Há alguns anos atrás, nem todo mundo conseguia essa façanha, fotografar custava caro, lembro-me da época em que se comprava flash que mais parecia cubo de gelo que não derretia, depois ele se tornou automático e passei a colecionar rolos de filmes, sim senhores, para quem não viveu isso não sabe o quanto era prazeroso e cruel esperar pela revelação de uma fotografia, mas triste era quando a foto não saia como o esperado e o momento que deveria ter sido “guardado” não volta, era causa para sentar e chorar.

Hoje em dia pode-se dizer que tudo é fotografado, mas é nítido que se perdeu o sentido de eternizar, de olhar para as coisas, as fotografias são utilizadas com uma banalidade tão intensa e efêmera.

Por que o ser humano não sabe usar as coisas que se tornaram tão fáceis e mais acessíveis com o progresso e a tecnologia?

Chegamos ao cumulo de fazer auto retratos em velórios, banheiros, na escovação dos dentes, não demora muito e teremos uma espécie de competição para ver quem enche mais o vaso pela manha (por favor não tomem isso como idéia), e a coisa não para por ai, estamos nos esquecendo de viver, de contemplar sem o peso e a preocupação furtiva de registrar o momento para saber quantos cliques teremos na foto, o que nos preocupa é o melhor ângulo, o lado do rosto em que o perfil ficara mais bonito, perdeu-se a magia do espontâneo, da captura do frágil  instante.

Que o senhor Giovanni Baptista Della Porta um dos primórdios na invenção da maquina de fotografar nos perdoe, posso estar enganada, e não me importo em estar, posso romancear demais tudo o que me cerca, mas também não me importo com isso, portanto acredito que o senhor Giovanni deva ter tido como motivação em sua invenção captar o momento para se esquivar da saudade, e vejam no que transformamos sua invenção?

Em um emaranhado de selfies sem sentido, biquinhos, gestos com as mãos que não identificam nada, a ida para o corredor da própria casa, se o problema fosse apenas esse, mas não nos identificamos mais com o instante precioso, parece que se tudo não for registrado iremos esquecer, porém não viver o momento é ainda mais perigoso, a realidade é que estamos atrás de uma maneira de aparecer e ser “curtido” cada vez mais, são poucos o que querem compartilhar um olhar, um momento bonito.

Tenho varias fotografias em minha memória, as quais irei me lembrar até o ultimo dia de minha vida, não estão reveladas, não foram postadas, mas cuidadosamente foram registradas por meus olhos, os quais já tiveram o privilegio de ver a vida de forma única em sua poção mais mágica, simples e verdadeira.

Ganhe mais tempo preocupado em viver!

D.S.L

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