Criou-se a carcaça larga e corpulenta, o rosto aprendeu a ser meio serio e um tanto tímido desde muito cedo, logo caminhava firmemente como se soubesse para onde ir, sem muitas palavras para lamento absoluto dos que precisam ouvir a todo instante alguma coisa, lhe coube o silencio como matriz de todos os pensamentos que não se fundam ao vento, permanecendo de alguma forma fragmentado no tempo, fora preciso rabiscar, reescrever, rasgar a pagina, começar de novo, mas o silencio é seu norte, um flerte bailarino e sedutor com a eternidade que intriga e entrega.
O que restara?
Desde muito cedo treinava no espelho o tempo correto de cada palavra, o olhar conversava com a mente, que alcançava a alma e bendizia o espírito, fez-se forte para não ser machucada e mesmo assim sofreu, fez-se rocha para não ser destruída e ainda sim precisou tantas e tantas vezes renascer, tornou-se pássaro enfrentando tempestades, voando na chuva, no sol, no breu da madrugada, mas teve o vento, e a graça das nuvens, e inegavelmente alcançava o céu e tudo mais ficara pequeno sobre seus pés, alcançara os céus e o Dono dele, pode ver a Deus.
Sem duvida alguma era um encontro marcado, em um primeiro instante tremia ininterruptamente como um recém nascido que acabara de deixar o ventre, prostrou-se perante tanta grandeza e magnitude, quis aproximar, quis beijar-lhe os pés, abraçá-lo para ter em seu colo o silencio mais procurado: o de paz, enquanto sonhava Ele lhe estendeu as mãos e com os olhos misericordiosos fez realidade tudo o que passou por seus pensamentos, fez real o choro, o abraço e a paz.
Mesmo em silencio a todos fazendo enganar feita de postura forte, e palavras profundas capazes de cegar tamanha a certeza, o tremor do ventre acomete seus sentidos, o suor do corpo lhe entrega o medo que sente diante de tudo, ao que não sabe dizer apenas sentir, ao que não tem como explicar, mas que é tão claro a seus olhos, aos joelhos que se dobram e as mãos que buscam a segurança de uma alma que transparece repleta de uma doçura celestial, fez dos olhos o esconderijo de todo o seu brilho.
Tomou para si a missão de espalhar o fruto que lhe fora dado como semente, passou a plantar amor, a falar dele como quem canta vitoria soberba sobre uma grande fortuna, seu maior tesouro é um emaranhado de papeis que se confundem aos dias de sua vida.
O coração às vezes parece bater tão profundamente que lhe perfura o peito.
Cruel desejo este de buscar o infinito e de crer acima de suas forças humanas o que a todos parece sonho, e que por tantas vezes embaraçam suas vistas, molhando o rosto em pranto com uma felicidade perfeita diante de uma beleza absolutamente absurda e inimaginável que pertence a seus olhos e a esse colo que eternamente lhe cobrira de paz e proteção.
Fundou na vida, como pedra inabalável a fé, a esperança e o amor genuíno que Deus lhe deu como missão.
Falara de amor até o dia em que se fará novamente pássaro, flor, céu, mar, restando humanamente apenas palavras.
D.S.L