Deixei de ser criança a algum tempo, não no sentido literal da palavra, mas fisicamente, em alguns aspectos emocionais – afinal vez outra me dou o direito de pirraçar, fazer mau criações, reivindicar mimos, dengos, atenção etc. – mentalmente com toda certeza e graças a Deus, pois é difícil quando o corpo cresce, a vida muda, e no quesito responsabilidade, entendimento, e “otras cositas más” o sujeito continua agindo com mentalidade de cinco anos, enfim os anos passaram e deixei de ser criança, como tantas outras coisas que deixei de ser, e assim a vida vai se tornando mais “crua”, mais branca e conseqüentemente mais triste.
Não tenho filhos, nem sobrinhos, portanto minha convivência com os “pequenos” é rara, tenho dois afilhados lindos, mas que pela falta de tempo, distancia e vida corrida, vejo muito pouco, fato contrario a minha vontade.
Com toda a distancia desses seres iluminados, esqueci-me de algumas coisas, de verdades que só eles sabem.
O fato é que a algum tempo tive o privilegio de conviver com elas um pouco mais, e então pude construir uma ponte imaginaria entre a realidade e o tempo; e a criança que deixei de ser a algum tempo pode passear por esse caminho e reviver um pouco de tudo o que havia sido esquecido indevidamente com o passar dos anos.
Enxerguei-me criança novamente e a experiência foi deliciosa.
Acreditem mesmo com toda essa parafernália tecnológica algumas delas ainda brincam de verdade, e me aceitaram no grupo, me deixaram brincar de pique esconde, estatua, corre cotia, brincar de colorir, pintar, desenhar, ler historinhas e inventá-las também, pude estar com elas e imaginar ser aquilo que bem entendesse, desde pintora de paredes com casa, tinta e cor imaginaria, a rainha, caixa de mercado, cantora, dançarina, motorista, junto a elas pude ser qualquer coisa, por que elas me emprestaram a visão mágica de um mundo esquecido na vida adulta onde tudo é possível, onde se acredita estar vendo e vivendo o que existe pra você, e permanecer acreditando ainda que ninguém mais veja ou sinta tudo o que seu olhar toca.
Não é clichê dizer que crianças são puras, pois somos nós adultos, que aniquilamos toda essa pureza, dando a elas falsos valores, preconceitos, separações, crenças absurdas, noções de desigualdade, mostramos a elas desde muito cedo que alguns nascem com certos privilégios, deixando claro que o mundo é um lugar onde todos nascem para ocupar certo espaço e que elas não terão o direito de escolher o espaço que de fato querem ocupar, somos nós que dizemos a essas crianças que nem todos os sonhos são possíveis, quando na verdade são sim. Todos os sonhos são possíveis sim! Evidente que isso não exclui a dificuldade de torná-los reais, mas são possíveis sim, cabendo a nos doutrinarmos essas crianças para que lutem por aquilo que sonharem ser, não as acometendo de previsões chulas.
Não é errado dizer que todos nascemos para o bem, preste atenção em uma criança, ou melhor, esvazie sua cabeça, sente-se no chão com uma porção de lápis de cor, uma folha de papel e gaste alguns minutos desenhando, ou de outra forma qualquer tente reviver na vida adulta sua brincadeira preferida, livre-se da crosta do tempo e permita-se viver essa lembrança, nesse momento se você acreditar muito, será puro novamente, e quem sabe assim como eu, trará para a vida adulta a fé mágica que luta acreditando que tudo pode ser possível, e se alguém lhe disser o contrario: não acredite, não dê ouvidos, lembre-se do que toda mãe ensina desde sempre: _ não converse com estranhos.
Quando fui ao encontro dessas crianças pensei em lhes ensinar alguma coisa, e ao final de tudo fui eu que aprendi e muito.
Valeu molecada!
D.S.L
* Créditos imagem http://imagensparafacebook.org/category/criancas/
conviver com as crianças é reviver sua infância!
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