Ao sair para uma festa, como a maioria das pessoas, arrumo os cabelos, tomo banho, me visto de algo que vá de acordo com o lugar e motivação de espírito, perfume, brilho labial, um acessório aqui outro ali, dinheiro, celular, chaves de casa, sorriso no rosto, lua no céu, e no peito a esperança de uma noite rodeada de amigos, musica e todo o inesperado que a vida possa trazer.
A maioria das pessoas que conheço seguem praticamente o mesmo ritual, seja para uma festa, para um jantar, para simplesmente trabalhar, ir ao supermercado, a padaria da esquina, enfim, não conheço ninguém, diga-se de passagem graças a Deus, que saia de casa carregando na bolsa um revolver, uma faca, um estilete, um pedaço de pau, não conheço ninguém que sai de casa com o peito carregado de ódio, indo a uma festa para matar, roubar, destruir, não só a própria vida, mas qualquer outra vida que esteja em sua mira, ao seu alcance.
É inconcebível imaginar tal cena, pensem: você se arruma, e o melhor acessório que você ou um amigo seu ostenta é uma arma.
Muitos nem precisam de arma, conseguem manchar as mãos de sangue, ao dirigirem embriagados, ao espancarem o mais fraco ate a morte, uma garrafa quebrada ao meio, uma discussão banal, um motivo tosco e torpe, e lá esta um corpo ensangüentado que nada combina com a ornamentação alegre de uma festa, ou melhor, nada tem a ver com a ornamentação alegre de uma vida, pois a ninguém é dado o direito de matar, seja como e porque for.
Já não sei como me defender, já não sei aonde devo ou não ir, a vida tornou-se perigosa a todo instante, mata-se pelo mínimo: transito, ponto de ônibus, preconceito, vandalismo, arrogância, inveja, magoa, tristeza, drogas, álcool, ciúme, mata-se, e até mesmo o amor tornou-se motivo para alguns casos, mata-se em nome do amor, em nome da vida, até mesmo em nome de Deus.
Mata-se.
Sem dó, sem piedade, com requintes de crueldade, e palavras assim não deveriam ter rima, não deveriam contar historias de famílias destruídas, vidas ceifadas. Historias assim não deveriam ser ouvidas por pessoas de bem, que querem o bem, que buscam o bem, historias assim não deveriam atingir inocentes encontrados por uma bala perdida.
Medo de sair de casa, conviver com outro, pois já não se sabe qual olhar é mentiroso, não se pode adivinhar que a carona não vá lhe estuprar, matar e jogar seu corpo em um lixão qualquer, já não se sabe se a esmola dada num sinal de transito a um menino de doze anos não vai financiar na próxima esquina a compra de uma arma que ocasionalmente venha a ser apontada pra você, ou pra sua mãe, ou qualquer outro querido de seu coração.
Não se pode querer acabar com a violência utilizando-se da mesma arma, a paz precisa ser tão difundida quanto todas as outras questões as quais o mundo tem levantado em convenções internacionais, é preciso falar das guerras que nascem dentro dessas pessoas, da violência individual, pois a paz a qual me refiro é aquela que precisa ser plantada no coração de cada um, não adianta acabar com guerras declaradas, não adianta não termos armas químicas, bombas atômicas, controle de enriquecimento de urânio, pois o mundo só estará a salvo quando a humanidade conseguir se definir como humano, respeitando a si mesmo, ao outro, ao direito do outro, a paz do outro, a felicidade do outro.
A vida esta de portas abertas para todos, mesmo que para muitos as chances sejam difíceis, e as oportunidades escassas isso não pode mais ser desculpa para tanta violência, degradação e medo, principalmente o medo que vem calando e atormentando a inocentes.
D.S.L