Vejo o sol partir deixando o céu com tons claros, alanrajados, mesclados de um azul sem definição ao final de cada dia. Feito criança pergunto-me ingenuamente para onde vai o sol? Onde ira se esconder? Para que só então a noite chegue, repousando a lua em um céu que contara apenas com o brilho esporádico de cada estrela.
Aonde afinal de contas o sol descansa para amanha retornar?
Assim, pergunto-me para onde vai o amor, seja ele em qualquer tipo de relação, quando tudo acaba, ou muitas vezes aonde ele se esconde, voltando em alguma manha qualquer.
Quando assim como o dia colocamos um ponto final em alguma historia de nossas vidas, aonde por tempos fomos iluminados, aquecidos, alegrados por pessoas que como o sol adorna nossos dias de felicidade, vida, e cores que de repente perdem o brilho, a graça, a intensidade.
Pergunto-me aonde se escondi, ou em qual deposito de lixo se joga tudo o que antes nos parecia vital, tão vivo a ponto de nos fazer sentir o sangue pulsar com ainda mais força dentro das veias.
Onde guardamos, ou simplesmente desovamos os momentos todos, as melodias que juramos ser eternas perante alguma historia; com qual borracha mágica, insana apagamos da memória, do coração, das paginas da vida pessoas, que um dia julgamos ser tão grandes a ponto de completar a felicidade que cultivamos necessária para sorrir, e que em um momento anterior creditamos jamais, nunca esquecer, ou tão somente deixar ir embora.
Em que gaveta será depositada as fotos, lembranças, presentes, pequenos fragmentos de uma etapa a dois, que muitas vezes sem motivo aparente até mesmo para quem decidi ir embora, resolvendo atravessar a próxima etapa sozinho.
Afinal de contas como sentimentos tão sólidos de uma hora para outra se esvaem ao vento feito um punhado de areia que se tenta segurar na palma das mãos.
Então escuta-se: “você é uma pessoa linda, maravilhosa, não merece o que estou fazendo, na verdade eu nem tenho motivos, mas mesmo assim já não há razão em mim para continuarmos”
Como? De que forma? O que afinal de contas não conseguimos vencer para merecer o colo tranqüilo e concreto de um sentimento verdadeiro.
O que afinal deu errado? Em qual momento deixamos de ser necessários na vida daqueles que ainda amamos, como nos fazemos obsoletos numa historia onde no fim, ainda conservamos sonhos de um futuro programado a dois, onde nos resta na alma o desejo louco de continuar, tentando a todo custo fazer com que aquele que teima em ir embora, fique!
Para quem quer partir, tudo é tão simples, tão claro, tamanho o cheiro de liberdade que exalam e feito gás venenoso nos entorpece, quase que a provocar um choque anafilático entre o amor que ainda sobrevive e a realidade feliz de quem esta trancando a porta, e nos dizendo adeus.
Para quem fica, resta erguer a cabeça, tentando esconder os olhos sempre prontos a chorar, a alma sempre prestes a enlouquecer, o agir a explodir sem razão, a vontade louca de quebrar tudo o que ficou, e de acabar com tudo o que restou dentro de si mesmo por não entender, compreender, ou aceitar um amanha sem o sentido que a vida tomou, ao conhecer um sentimento que antes parecia infinito.
Há ainda nos braços o cheiro de um abraço que só será possível agora em sonhos que demoram a chegar, vez que o sono muitas vezes nos trai; há ainda todas as coisas não realizadas: viagens, historias, momentos que seriam contados a dois e que agora sobrevivem na imaginação de um só; há ainda tudo mais o que restou após você ir embora, porem há ainda a vida.
D.S.L
* Titulo em menção da musica de Chico Buarque