Caminho todos os dias rumo ao trabalho, em média, levo de trinta a quarenta minutos caminhando, depende da pressa (risos)!
Por esse trajeto vou olhando, observando e absorvendo cada pedacinho da minha Manchester Mineira.
Fui presenteada pelos céus quando sai de uma cidade enorme, que de tão grande quase me engolia, para morar aqui, viver aqui e ser feliz aqui! Não que não fosse feliz por lá, porque para ser feliz não importa o lugar, essa tal felicidade mora mesmo é dentro da gente, mas aqui a vida tem um gostinho melhor… Talvez seja pelo doce de leite que se faz aqui e que não se encontra igual em nenhum outro lugar do mundo, ou pelo queijo, e todas as outras delicias da culinária mineira!
Mas voltando ao assunto do percurso que faço todos os dias, sempre me impressiona o vai e vem de gente! É gente de toda cor, de todo jeito, de toda forma, uns com mais pressa do que os outros…
Saindo de encontro à vida que se inicia a cada manhã, alguns sorrindo, outros de cara feia como se lamentassem a chegada de mais um dia, muitos com seus fones de ouvido melodiando a vida.
Percorro praças, arvores, canteiros de flores, velhinhos que se exercitam, moças que buscam formas mais belas, crianças saltitando a caminho da escola, carros correndo…
Infelizmente nem tudo é tão prosaico e maravilhoso! Por esse mesmo caminho cheio de cores e pássaros cantando, também me deparo com cenas tristes e cada vez mais interrogativas, que me perfuram a alma.
Outro dia encontrei um cachorro morto, certa vez uma moradora de rua chorava compulsivamente na porta de uma casa, noutra vez presenciei um acidente seguido da morte do jovem atropelado ao atravessar o sinal vermelho.
Hoje esta chovendo, faz até um pouco de frio, embaixo de uma marquise encontrei um rapaz, acho que era um rapaz, o corpo estava coberto por uma manta, parecia jovem, ele dormia de costas, separado do chão por um pedaço de papelão, para infelicidade da humanidade cena comum nos dias de hoje, tão comum que muitos não reparam.
O que me chamou a atenção naquela cena foi o livro que dormia ao lado daquele jovem, a sua esquerda também guardado pelo papelão estava uma bíblia.
Pelo restante do caminho fiquei imaginando as orações daquele rapaz, qual será a palavra que lhe foi dada naquela noite antes de adormecer? O que Deus terá dito aquele coração, aquela vida?.
Seja como for, ele ainda acredita tendo tão pouco, ele permanece com fé tendo quase nada, pois quando se dorme na rua tudo mais já se perdeu, ele ainda ora e talvez até peça perdão por algum pecado. Ainda tem Deus, quando muitos que tudo tem, cultuam impérios fúteis, efêmeros, soberbos, maldosos, e ainda assim vivem a reclamar de tudo, indignados com a pouca sorte que eles imaginam ter!
D.S.L
* Titulo faz menção a musica Perfeição composta por Renato Russo
Parabéns, vc acaba de se tornar uma escritora de verdade, pois somente escritores de verdade têm o dom de observar tão de perto as verdades tão cruéis!!!Bjo…
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