A casa está terrivelmente limpa.
O som do silencio é o ruído do chinelo no piso que reluz sem um ponto de poeira.
Ligar a televisão, o som, abrir um livro seria perturbador.
Estou com febre, optei por uma garrafa de espumante. O liquido se ocupa do copo: ebulição, nem doce, nem bruto, não é amargo; Marcante!
Saíram para comprar remédios, alguém está preocupado com minha febre. Definitivamente prefiro o silencio, a casa terrivelmente limpa, o liquido no copo, o som de minha voz dizendo absolutamente nada a meus pensamentos.
Estou desordenamente febril.
Há uma hora alguém saiu para comprar remédios; tenho febre; a farmácia mais próxima fica a menos de um quilometro, mas talvez o caso seja mais grave, quem sabe não se deva chamar um padre, uma rezadeira, um pastor, um pajé ou vários deles.
Há uma hora alguém saiu para me comprar medicamentos, e quem sabe encontrando um supermercado tenha optado por ingredientes de uma canja.
Não há porque tamanho alarde: é febre! Decidi cura-la com espumante e o silencio a de amenizar meus delírios.
Alguém saiu para comprar remédios, ou cigarros, cervejas, talvez carvão para um churrasco.
A casa está terrivelmente limpa. Nenhuma traça, copo sobre a pia, sem poeira, casa vazia, nenhum microrganismo rasteja; estou com febre.
Uma tela em branco, logo expulsarei meus demônios.
Uma tela em branco grita por tinta, uma vida em cores guerreia por uma nova luz.
A caneta que tremula nas mãos é mais febril do que meu corpo.
Alguém saiu para comprar remédios.
Alguém saiu ou foi embora?
Pronunciamos o adeus? Creio que ele seja a razão do espumante, e não a febre!
D.S.L
Muito, muito bom, Escriba. Quase Clarice. Adorei.
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Uma critica dessas deixa a gente boba demais! Obrigada!
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Como sempre seus textos são incríveis.
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Muito obrigada!
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